São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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Cidade do Paraná 'exporta' bóias-frias

Praga agrava crise do algodão

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO SEBASTIÃO DA AMOREIRA

O município de São Sebastião da Amoreira (395 km ao norte de Curitiba), com 8.000 habitantes –dos quais 60% são bóias-frias–, está "exportando" trabalhadores para o sul de Minas Gerais. Eles procuram trabalho nas colheitas de café em razão da falta emprego na cidade. Até três anos atrás, São Sebastião da Amoreira tinha de "importar" trabalhadores para as lavouras de algodão.
Com apenas 500 hectares plantados em algodão nesta safra, o município enfrenta ainda um forte ataque de uma nova doença, ainda descohecida, que já provocou quebra de 30% nas lavouras. Segundo o agrônomo Sérgio Zandoná Portella, 27, da Emater-PR, os produtores vivem hoje um impasse. "Não sabem se destróem as lavouras para plantar outra e diminuir os prejuízos ou se insistem no algodão, correndo o risco de quebra total."
Luiz Braga, 35, preferiu não esperar uma solução da pesquisa para a nova doença. Há duas semanas, ele decidiu substituir o algodão plantado em três alqueires por soja, "mesmo fora de época, pois o algodão acabou mesmo". Braga havia feito o plantio com recursos próprios e já se conformou com as perdas.
Delcides Araújo, 40, que financiou metade dos seus três alqueires, "mas sem Proagro (uma espécie de seguro agrícola)", disse estar completamente desorientado. "Os técnicos pedem para esperar uma definição. Estou com a dívida no banco e a cada dia que passa a planta murcha mais e morre."
O chefe do Departamento de Agricultura do município, Alexandre Marques, 33, disse que a prefeitura está tentando implantar projetos de diversificação, "para evitar que os produtores percam suas terras".
A estimativa de Marques é que 2,1 mil pessoas não terão trabalho neste ano em razão do declínio do algodão. "É a lavoura que emprega mão-de-obra e estamos tentando, emergencialmente, instalar hortas comunitárias para os bóias-frias terem o que comer."
A crise afeta também o comércio local, com muitas pequenas lojas encerrando suas atividades. (José Maschio)

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