São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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Miles retorna em vídeo, fotos e CD

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Parece um daqueles chavões de marketing tipo "veja o filme, ouça o disco, leia o livro". Só que desta vez é por simples coincidência que o maior mito do jazz, Miles Davis (1926-1991), retorna ao mercado em três formatos: um vídeo e um CD nacionais, mais um livro recém-editado na França (leia texto ao lado).
O título do CD "The Essence of Miles Davis" –lançado num pacote de jazz do selo Globo/Columbia que inclui outras três antologias mais genéricas– não chega a ser totalmente falho em sua pretensão. As cinco gravações dessa coletânea pertencem à segunda metade da década de 50, reconhecida como uma das fases mais brilhantes da carreira do trompetista "cool".
Três das cinco faixas estão certamente entre as obras-primas milesianas. A versão de "Round Midnight" (de Thelonious Monk), gravada em 56, marcou o ingresso do saxofonista John Coltrane no primeiro time do jazz, com um solo histórico. Mais importantes ainda são "So What" e "Blue Green", faixas de "Kind of Blue" (de 59), um dos álbuns de jazz mais influentes de todos os tempos. Para os novatos em Miles, é uma boa introdução.
Mesmo para quem já tem a versão CD de "Miles & Quincy Live at Montreux" (lançado aqui no final de 93 pela mesma Warner), o vídeo homônimo traz atrações extras. Além de registrar o badalado concerto do trompetista no Montreux Jazz Festival de 91, dois meses antes de sua morte, destaca cenas de bastidores do evento suíço e entrevistas com vários parceiros de Miles.
"Eu o descreveria como um pintor musical, produzindo notas inesperadas mas sempre perfeitas. Alguém até já o chamou de Picasso do Jazz", elogia logo ao início o megaprodutor e regente Quincy Jones, que também assume a função de narrador do vídeo. Muito justo, para quem foi o principal responsável por aquele "happening" tão esperado.
Depois de atravessar três décadas dizendo (e até provando) que jamais voltaria à sua música do passado, um Miles Davis tímido e quase simpático desembarcou em Montreux para enfim concretizar o sonho de seus fãs mais veteranos. Quincy o convenceu a tocar de novo os clássicos arranjos de Gil Evans que fizeram a magia de álbuns acústicos como "Porgy and Bess", "Miles Ahead" e "Sketches of Spain", na virada para os anos 60.
Entre uma cena e outra aparecem também rápidos depoimentos dos músicos Herbie Hancock, Randy Brecker, Bill Evans (o saxofonista), George Duke e Gil Goldstein. No mais, a câmera segue Miles passo a passo: sua chegada ao pequeno aeroporto suíço, os ensaios nervosos, o delírio da platéia durante o concerto, até a saída do palco com um gesto final de comemoração, já nos bastidores. O mito tinha completado enfim seu longo mas inevitável percurso de retorno.

Título: Miles Davis & Quincy Jones Live at Montreux (vídeo)
Músicos: Wallace Roney (trompete), Kenny Garrett (sax alto), Gil Evans Orchestra e George Gruntz Concert Jazz Band
Lançamento: Warner
Produção: EUA, 1993
Duração: 77 minutos

Título: The Essence of Miles Davis (coletânea em CD)
Músicos: John Coltrane (sax tenor), Bill Evans (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e outros
Lançamento: Globo/Columbia
Preço: CR$ 5.000

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