São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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Peça traz tragédia do filósofo Althusser

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Espetáculo: O Futuro Dura Muito Tempo
Direção e adaptação: Márcio Vianna
Figurinos e Cenário: Teca Fichinski
Quando: estréia hoje, às 21h; quintas a sábados, às 21h, domingos, às 19h; até dia 13 de fevereiro
Onde: Sala Gil Vicente do Teatro Ruth Escobar (r. dos Ingleses, 209, tel. 011-2514881)
Quanto: CR$ 1,6 mil
Duração: 1h20
Elenco: Rubens Corrêa, Vanda Lacerda
Sinopse:O filósofo francês Louis Althusser reflete sobre sua vida, depois de matar sua mulher Hélène

No dia 16 de novembro de 1980, o filósofo francês Louis Althusser, ao massagear o pescoço de sua mulher Hélène, com quem vivia há 34 anos, a estrangula. Esta tragédia pessoal é a "raison d'être" de um espetáculo que estréia hoje em São Paulo, "O Futuro Dura Muito Tempo". A direção é de Márcio Vianna, e os dois personagens em cena, Louis e Hélène Althusser, são interpretados por Rubens Corrêa e Vanda Lacerda.
Por que o filósofo matou sua mulher? Ninguém sabe ao certo. A sociedade francesa preferiu aceitar a loucura de um de seus mais lúcidos intelectuais, e ele ficou recluído até morrer, em 1990, aos 72 anos.
Em maio de 1985, Althusser entregou a uma amiga um manuscrito de 323 laudas. O texto, cujo título é uma frase do general e estadista francês Charles De Gaulle ("l'avenir dure longtemps"), começa dizendo: "É provável que se julgue chocante que eu não me resigne ao silêncio depois do ato que cometi...".
O livro, editado no Brasil pela Companhia das Letras em 1992, é uma reflexão do filósofo sobre sua vida, seu amor por Hélène, sua obra e seu ato. Para Vianna, o "caso Althusser" mostra "o grande paradoxo do homem contemporâneo, a fragilidade existente em todos os homens fortes, os momentos de loucura embutidos na racionalidade".
Em 1989, Vianna montou "Marat, Marat", espetáculo muito elogiado pela crítica, mas que o diretor considera insatisfatório. Depois disso, durante quatro anos, dedicou-se ao que chama "experimentos teatrais". Foram dez montagens. As "farras", espetáculos que duravam horas, e "Confessional" e "O Caso dos Irmãos Feininger", onde cada ator sentava-se ao lado de um espectador, são a marca deste período, onde Vianna buscou "subverter o convencionalismo na relação ator-espectador e levar às últimas consequências o processo emocional".
Finalmente, na metade do ano passado, o diretor resolveu interromper esse percurso, "que acabaria me levando, talvez, a um experimentalismo pelo experimentalismo, por mais rico e bonito que fosse todo o processo". Montou "O Futuro..." no Rio. Fez sucesso. O espetáculo teve três indicações para o prêmio Mambembe, e Corrêa foi escolhido como melhor ator. No cenário de Teca Fichinski, Althusser-Corrêa vai tirando de um tanque de areia, "escavando", objetos que são fragmentos de sua vida. O trabalho é interminável. Como disse o filósofo na apresentação de suas lembranças: "É meu destino só pensar em acalmar uma inquietação arriscando-me a outras, indefinidamente".

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