São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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Vendo a banda passar

As notícias mais recentes sobre a economia dos Estados Unidos indicam uma recuperação gradual, com estabilidade de preços e fortalecimento do dólar. Os tempos parecem mudar e os Estados Unidos podem voltar a dinamizar a economia mundial.
Será sem dúvida uma recuperação lenta. De um lado, teme-se nos EUA que uma reativação econômica mais rápida traga pressões inflacionárias. No último trimestre de 1993 o Fed (o banco central americano) chegou até mesmo a manifestar preocupação com essa hipótese, pois a taxa de crescimento ultrapassava os 5% em termos anuais. A hipótese mais provável agora é de um crescimento mais moderado, em torno de 3% ao ano.
A melhor notícia, entretanto, é a estabilidade de preços. Espera-se que a inflação anual continue em 94 abaixo dos 3%. Isso significa que as taxas de juros poderão continuar baixas, com efeitos positivos não apenas sobre a própria economia dos EUA, mas também sobre todos os países que, como o Brasil, têm de se haver com compromissos financeiros sujeitos a juros internacionais.
O otimismo com a recuperação dos EUA só não é maior porque a difusão desse impulso será ainda limitada. A economia alemã está às voltas com problemas decorrentes da unificação. E a economia japonesa, que parecia imune à instabilidade mundial, continua mergulhada na recessão.
Para a economia brasileira os efeitos da gradual reafirmação da economia norte-americana poderão ser um apoio adicional aos esforços de estabilização. Como se sabe, o programa do governo pretende usar, ainda que indiretamente, uma âncora cambial. Contar com um céu-de-brigadeiro nos EUA, portanto, será um fator importante, ainda que insuficiente, para o sucesso do Plano FHC.
Como sempre, a dúvida maior é saber se o Brasil fará a lição de casa. Se não a fizer estará condenado mais uma vez a apenas assistir a banda passar.

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