São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ano eleitoral

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Começam a se apresentar os candidatos às eleições de 1994. Aos eleitores cabe o aprimorar os critérios de escolha e o exercício do discernimento. Nosso regime democrático, para se aperfeiçoar, exige candidatos e programas partidários adequados aos graves desafios do país. Ninguém deve se eximir do voto, decepcionado pelas revelações da CPI.
A Igreja Católica não está, nem pode estar, ligada a nenhum partido, mas sim a princípios e valores que anseia sejam assumidos por todos os partidos, como decorrência da dignidade da pessoa. Insiste a Igreja no dever do cidadão de formar a consciência pelo conhecimento dos candidatos.
Requer-se dos que pretendem cargos públicos, além da competência, respeito aos valores éticos e decisão de promover o bem comum, atendendo, em especial, à população empobrecida, pelo compromisso com a justiça social e a solidariedade cristã.
Essas são exigências indispensáveis ao exercício do mandato que contribui para construir uma nação marcada pela honestidade pessoal, pelas leis justas capazes de assegurar condições dignas de vida para todos, a começar dos 32 milhões de brasileiros em extrema pobreza.
Há necessidade de competência para o cargo. A atuação política não se improvisa. Requer-se formação, capacidade administrativa para trabalhar em equipe e experiência progressiva de responsabilidade. Ninguém entrega um avião DM-11 ao piloto habituado apenas às asas do ultraleve.
Hoje, após as turbulências de 1993, compreendemos melhor o que significa o respeito a valores éticos, percebendo quanto detrimento trouxe ao país a corrupção na área política. Recursos públicos foram dilapidados, lesando o direito de milhões de empobrecidos.
Difundiu-se uma atitude permissiva de enriquecimento ilícito. A omissão conivente, por longos anos, abriu lugar para o descrédito de nossas instituições. Espera-se, agora, que a CPI, apurando responsabilidades e punindo faltas, consiga o fim da impunidade.
Não será possível, no entanto, a retomada dos valores éticos na política sem a mudança comportamental, pela fidelidade aos ditames da consciência e às justas leis. É preciso que esta fidelidade se explicite no compromisso com o bem comum, promovendo condições dignas de vida, segurança e concórdia entre os cidadãos.
Isto exige dos candidatos renúncia a privilégios, ao enriquecimento fácil e a vontade firme de dedicar-se ao bem do povo. Não é admissível que o Brasil, dotado de recursos naturais e humanos tão amplos, não seja capaz de assegurar a todos o acesso à terra, à propriedade rural e solo urbano, à moradia, o direito ao trabalho e salário adequado, à educação e atendimento à saúde e à participação na política.
A Igreja Católica considera seu dever o de cooperar para obtenção desses objetivos à luz da Doutrina Social da Igreja e da prática da solidariedade cristã, reconhecendo em cada pessoa a dignidade de filhos de Deus. O ano eleitoral vem, assim, intensificar, para cada cristão e as comunidades, a obrigação grave de contribuir pelo voto, sem anulá-lo, para que a sociedade brasileira seja justa, atuante no cumprimento das leis, e nossos representantes sejam comprometidos a serviço do povo.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

Texto Anterior: Fome e inflação
Próximo Texto: E se o ministro fosse ao cartório?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.