São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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E se o ministro fosse ao cartório?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O ministro Fernando Henrique Cardoso tem uma série de adversários –e um deles chama-se Fernando Henrique Cardoso. Esse "adversário" ficou ontem mais forte ainda, complicando a já complicada negociação de um plano de combate à inflação.
Em discurso em Goiânia, em meio a um clima de campanha eleitoral, Fernando Henrique deixou escapar que, entre hipóteses sobre seu futuro, está mesmo disputar a Presidência da República –outra possibilidade, repetiu mais uma vez, é nem mesmo buscar a reeleição ao Senado e descer a rampa junto com Itamar Franco.
Negociar um plano de ajuste já seria difícil num clima sem tantas pressões. Mesmo se a inflação não estivesse tão alta, se o presidente não se chamasse Itamar Franco, se os partidos não fossem tão fracos, se os parlamentares não se preocupassem mais com sua reeleição do que com o país. Basta lembrar que a Câmara acaba de aprovar a recontratação de funcionários públicos.
Como se não bastasse, temos um ministro capaz ser o beneficiário direto do sucesso do plano –se Fernando Henrique consegue criar pavorosos ciúmes em seu próprio partido, imagine-se, então, com os reais adversários. É calhorda, claro, mas previsível que muita gente influente torça contra, criando empecilhos. E dane-se o país.
Sei que vai parecer ingênuo –e também sei que qualquer brasileiro maior de 35 anos tem o direito de se candidatar a presidente. Fernando Henrique foi cassado pela ditadura e, natural, não quer ser cassado também pela democracia.
Mas o ideal nesse momento seria que ele fosse ao cartório e assinasse documento se comprometendo a não disputar o Palácio do Planalto. Assim teria maior credibilidade ainda para encostar o Congresso na parede.
PS – Numa gigantesca matéria paga publicada ontem na imprensa, o deputado João Alves tenta fazer sua defesa. Num dos trechos, afirma que um processo contra mim está correndo na Justiça. Errado. Sua queixa-crime foi arquivada. Olhando para trás, até me arrependo. Há três anos, classifiquei-o, numa coluna, que motivou o processo, de vampiro administrando banco de sangue. Ele, na realidade, estava mais para Herodes tomando conta de berçário.

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