São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
'Homem-barata' habita esgoto de BH
AMAURY RIBEIRO JR.
"Aqui na galeria pelo menos é mais seguro. Não chove e ninguém rouba nossa roupa", disse o desempregado Oswaldo Mello, 26, em seu bueiro localizado no Arrudas. Mello não tem família, está sem emprego há cinco anos e passa o dia procurando lixo no centro da cidade. Ele vive "na corda bamba". O bueiro onde mora está localizado a cerca de sete metros do córrego. Ele corre o risco de cair enquanto dorme caso dê um passo em falso. Não existem estátisticas sobre o número de pessoas que moram nos esgotos. Sabe-se apenas que os "homens-barata" integram o universo de 100 mil pessoas que moram nas ruas da cidade, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Social. "O problema da moradia reflete a situação de miséria que atinge o país", afirma o vice-prefeito de Belo Horizonte e secretário de Desenvolvimento Social, Célio de Castro (PSB), 60. Um levantamento recente da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) concluiu que 20% da população da capital mineira, estimada em dois milhões de habitantes, está morando nas 121 favelas da cidade. O problema da falta de moradia dá para ser notado nos 20 quilômetros das margens do Arrudas, que liga o Centro à zona oeste. Os espaços debaixo dos viadutos estão superlotados e centenas de pessoas moram em barracos construídos à beira do Arrudas. "Tem até gente vendendo ou trocando por objetos uma vaguinha debaixo dos viadutos. Por isso, o caminho tem sido mesmo as galerias", disse à Folha Maria Ribeiro, 23, moradora de uma galeria no bairro Gameleira. O centro da cidade está totalmente tomado por meninos de rua, mendigos e catadores de papel. Segundo a Urbel, 526 catadores de papel moram na região. A falta de espaço tem provocado também uma disputa entre meninos de ruas e mendigos por bueiros –transformados em armários. "Como não temos casa, somos obrigados a guardar as roupas nos bueiros. O problema é que falta espaço e às vezes nossas coisas desaparecem", afirmou o catador de papel Márcio Freitas, 26, enquanto tirava suas roupas de um bueiro situado no bairro Calafate. Os bueiros são transformados em armários até mesmo no cruzamento das ruas Alagoas e Getúlio Vargas, no Savassi, um dos bairros nobres da cidade. "Eu dei bobeira na vida e acabei ficando sem nada. Não tenho nem amigos. Só me restaram as baratas e os ratos que saem do esgoto", disse a indigente Desana Narcísio, 18. Texto Anterior: Poison faz caricatura da atitude roqueira Próximo Texto: Favelas estão em área de risco Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |