São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Cidade no Piauí reduz analfabetismo a 5%

CLICIA CRONEMBERGER
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TERESINA

Um sistema educacional que funciona há 30 anos obedecendo ao calendário agrícola transformou o ensino no município piauiense de Dom Inocêncio (550 km ao sul de Teresina). Dos 8.989 habitantes da cidade (segundo dados do IBGE de 1991), 8.539 são alfabetizados, um índice de 95% em uma região atingida pela seca e pela miséria.
Dom Inocêncio é uma exceção no Piauí. O município, que ganhou autonomia em 1989 após se desmembrar de São Raimundo Nonato, é cercado pelo analfabetismo, que predomina nas demais regiões. De acordo com a Secretaria da Educação, o índice de analfabetismo no Estado é de 50,28%, o equivalente a 1,16 milhão de habitantes (IBGE, 1991) que não sabem ler ou escrever.
O ensino na cidade é patrocinado pela Fundação Ruralista, uma entidade criada por seu presidente vitalício, o padre Manuel Lira Parente, 74. Segundo o padre, a entidade, que começou a funcionar em 1963, se mantém principalmente por meio de doações provenientes da Inglaterra, Holanda e Alemanha.
As aulas coincidem com o período de seca (de abril a novembro). De dezembro a março (período de chuvas), são suspensas e os alunos são liberados para trabalhar no plantio e na colheita. O método evita que os pais tirem os filhos da escola no momento em que necessitarem de força de trabalho para a agricultura.
O município possui 40 escolas, nas quais estão matriculados aproximadamente 4.000 alunos (cerca de 50% da população da cidade). A fundação administra 12 escolas, que abrigam 2.000 alunos com idades entre 3 e 11 anos. O governo do Estado mantém no município uma única escola. Treze das 40 escolas têm prédios de tijolos. As outras 27, da prefeitura, funcionam em construções de barro cobertas por palha, as "latadas".
Cada professora ganha um salário mínimo por mês durante todo o ano, mesmo trabalhando somente de abril a novembro. Cerca de 70% dos alunos moram a pelo menos 6 km das escolas.

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