São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em Pomerode, conselho fiscaliza os pais

SILVIA QUEVEDO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

Os pais de alunos de Pomerode (a 175 km de Florianópolis-SC) podem ser chamados a dar explicações na Justiça se não matricularem seus filhos na escola. A cidade tem índice de analfabetismo de 0,5%, idêntico à média dos EUA. O Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente informa que exerce uma fiscalização direta sobre os pais que não levam seus filhos à escola.
O Conselho Tutelar foi instalado em Pomerode em fevereiro deste ano. De acordo com a vice-presidente, Isabel Cristina Borges, 27, o conselho faz um "trabalho de campo", visitando os pais que eventualmente queiram tirar os filhos da escola depois que eles aprendem a ler e escrever.
Desde a implantação do conselho, houve um único caso de pai que não queria matricular seu filho na escola. Ele achava desnecessário, porque a criança já sabia ler e escrever, mas foi denunciado por vizinhos. Integrantes do Conselho o procuraram a fim de tentar convencê-lo a matricular a criança, mas ele se manteve irredutível. O Conselho Tutelar procurou então a Promotoria Pública, que chamou o pai para se explicar na Justiça. Diante da convocação, ele recuou e matriculou a criança. Cristina Borges disse que não pode revelar o nome do pai e da criança por "questões éticas".
Pomerode tem índices de alfabetização de Primeiro Mundo. A pesquisa mais recente feita em 1987 pela Fundação Educar, do Ministério da Educação, constatou que o índice de analfabetismo na cidade é de 0,5%, o mesmo dos EUA (segundo o Anuário Estatístico da Unesco, de 1991). No Brasil, a taxa média de analfabetismo é de 18,9% e na India, de 51,8%.
O secretário municipal de Educação, Waldemar Wiesner, 39, diz que a prefeitura investe por mês cerca de 40% da arrecadação do município em educação. A cidade possui 49 mil habitantes, 22 escolas públicas (19 municipais) e uma particular, nas quais estão matriculadas 4.272 crianças.
Na última eleição, entre 12.950 eleitores, apenas seis votaram identificando-se com impressão digital. "Não ter criança fora da escola é uma preocupação da própria população, uma questão cultural que tem a ver com a conduta germânica de trabalho", avalia o secretário de Turismo, Francisco Canola Teixeira, 51.

Texto Anterior: Cidade no Piauí reduz analfabetismo a 5%
Próximo Texto: Teutônia tem só 34 analfabetos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.