São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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É hora de fazer

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro Fernando Henrique Cardoso e seus assessores reclamam de aumentos de preços que consideram injustificados. Mas, eles têm parte da culpa nesta história. Por exemplo: toda vez que eles falam em conversão de preços pela média, a inflação sobe um pouquinho. Ocorre que ninguém sabe como seria feita esta conversão de cruzeiros para URV, de modo que qualquer empresário, por via das dúvidas, aumenta um pouquinho seu preço.
É um movimento de defesa. Qualquer que seja o critério de conversão, é melhor para a empresa ter os preços altos neste momento. Se os preços resultarem altos demais para o mercado, aplicam-se descontos –já que nenhum governo vai proibir a redução. Mas, se os preços estiverem atrasados, a correção para cima pode ser mais complicada.
Quanto maior a incerteza, maior esta inflação defensiva. E o fato é que os passos seguintes do Plano FHC não estão descritos no detalhe. Quem não fica pelo menos ansioso diante de um plano que não se sabe bem o que é?
Para evitar esta situação, a equipe econômica precisa, primeiro, parar de falar de idéias vagas e, segundo, definir e anunciar passos concretos. Sem isto, vão ficar na reclamação.
E é hora de tomar cuidado, pois o atoleiro inflacionário engole índices cada vez mais rapidamente. Quando Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda, em maio do ano passado, a inflação mensal era de 30%. Havia levado dez meses para saltar dos 25% para os 30%.
Mas levou apenas quatro meses para alcançar os 35%, em outubro. E em mais três meses chegou aos 40%. Ou seja, está acontecendo exatamente o que dizem os manuais: indexada, a inflação brasileira é inflexível para baixo, pois a taxa de um mês é pelo menos igual à do mês anterior.
Mas é flexível para cima. Qualquer aumento de preço entra no índice geral e tem seu impacto espalhado por toda a economia. Assim, o aumento do preço do chuchu serve para reajustar o aluguel. E segue a inflação para cima. Na melhor das hipóteses, lentamente.
Nunca se sabe qual é o limite antes de degringolar. O Plano Cruzado foi precipitado, em fevereiro de 1986, porque a inflação chegara a 14% em janeiro. Hoje, está tudo funcionando com os 40%. Mas ninguém pode dizer que está normal. Ou seja, a equipe econômica precisa dizer logo o que é a URV.

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