São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Inflação e câmbio provocam incertezas

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Todas as vezes que a inflação muda de patamar, como acontece atualmente, aumenta o jogo das expectativas. As autoridades econômicas, representanto o seu papel, negam evidências elementares, enquanto os outros agentes econômicos também representam o deles: não dar muito crédito ao discurso oficial.
Neste contexto, o Banco Central tem cumprido o seu papel, deixando de lado o IPC da Fipe de 39,5% da primeira quadrissemana de janeiro e o IPCA da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), de 40,61%, o primeiro índice a revelar a realidade de que a taxa de inflação superou os 40%.
Ao ignorar estes números, o Banco Central disse ao mercado financeiro que o over ficará em 50,31% até o próximo dia 19. Nessa data serão divulgados os resultados do IPC-Fipe da segunda quadrissemana do mês, bem como o segundo decêndio do IGP-M.
O mercado desconfia dessa política e o BC corre o risco de ter de puxar brutalmente as taxas do over para 54,77% no dia 19, caso pague juro real de 1,8% sobre uma inflação de 41%.
Também na área de câmbio, ao ignorar os números ascendentes da inflação, o Banco Central está sustentando correção diária do câmbio abaixo das expectativas do mercado.
Pelos dados do "Dinheiro Vivo-râmbio", publicação via fax da "Agência Dinheiro Vivo", em janeiro a defasagem cambial em relação ao dólar está estimada em 7,4% e em 3,2% em comparação a uma cesta de moedas.
Dúvidas
Os agentes econômicos reagem a esses fatos e, mais do que isto, já vêm se protegendo em relação ao processo de conversão de cruzeiros reais para a URV, com reajustes mais acelerados de preços, porque ninguém quer perder nessa transição.
Entre os agentes e economistas, as discussões hoje giram em torno dos riscos de haver inflação em URV. As avaliações são de que poderá haver descompasso nos aumentos de preços nos diversos segmentos da economia.
Por exemplo: uma empresa tem CR$ 100, que se converterão em 10 URV, mas um fornecedor poderia fazer uma conversão numa proporção maior e a empresa, então, seguiria a mesma tendência do fornecedor.
Nos debates, também não são esquecidos os riscos de uma explosão total na inflação em CR$. E a questão do câmbio pode gerar desconfiança em relação ao novo indexador.
Essas dúvidas trazem inseguranças. Para a equipe econômica do governo, restam poucas alternativas para controlar a atual aceleração de preços. Daí as vacilações em torno da melhor época para desencadear a conversão para a URV.

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