São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Volta fortalece as reservas

NILTON HORTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dinheiro saiu de várias formas, mas o retorno do dinheiro dos brasileiros, apesar de especulativo, está servindo para alguma coisa: ajudou a fortalecer as reservas em dólar do país e afastou o fantasma da hiperinflação.
As principais manobras para fugir com o dinheiro do Brasil foram o subfaturamento de exportações e superfaturamento de importações. Estas operações buscavam a apropriação do ágio entre o dólar paralelo e oficial, que chegou aos 130% no último ano do governo do ex-presidente José Sarney.
Estes dólares nem entravam no país. Ficavam depositados em uma conta lá fora mesmo. "Mas este dinheiro que saiu e não foi originado em roubo, corrupção e tráfico, está voltando ao Brasil", afirma Eduardo da Rocha Azevedo, presidente da Corretora Convenção. "Os juros internos estão muito altos e não tem mais aquele medo do que a vitória do Lula representava na época", afirmou ele.
O risco de nova revoada de capitais do Brasil, segundo Rocha Azevedo, ainda depende do comportamento das pesquisas para as eleições de outubro. "Eu imagino que o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, vai dar um choque qualquer para garantir sua vitória nas eleições", arrisca. "Neste caso, os dólares vão continuar voltando ao país."
Segundo Emílio Garófalo Filho, ex-diretor da área internacional do Banco Central, é preciso dar um empurrão para o ingresso de dólares prospere mais ainda. "Temos um modelo cambial para tempos de escassez de reservas", afirma. "Não tem nada a ver com tempos de fartura."
O ideal seria, em sua opinião, a permissão para que setores econômicos como exportadores e importadores pudessem abrir contas em dólar. Para Nathan Blanche, presidetne da Anoro (Associação Nacional do Ouro), o principal resultado do retorno de capitais ao Brasil se vê no dia-a-dia.
"Saímos de um ágio de 130% para uma média de 15% em 1992 e de 10% em 1993", afirma. "Agora, há um deságio. O volume de reservas, além disso, não parou de crescer. O fantasma da hiperinflação passou por causa disso."
Nos idos de 1989, a insegurança do brasileiro era um grande negócio. Representantes de bancos suíços, por exemplo, organizavam reuniões mensais no Hotel Maksoud Plaza. Faziam filas os interessados em abrir contas bancárias no exterior.
A moda pegou tanto que, logo depois, chegaram os bancos uruguaios. Em seguida, foi a vez das instituições instaladas em paraísos fiscais e de Miami. Atualmente, não se tem notícia de convites de bancos destes países para encontros de negócios. "Antigamente, recebia um convite por mês. Desde 1991, não recebo uma proposta e nem ouvi falar de nenhum evento", conta Azevedo.(NH)

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