São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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O que está mudando o trabalho industrial

JOSÉ ROBERTO FERRO

A linha de montagem industrial de hoje e a de 50 anos atrás têm inúmeras semelhanças aparentes, mas os processos organizacionais ao seu redor são agora distintos. Não só pela introdução de máquinas sofisticadas –como os robôs–, mas também por mudanças conceituais na natureza do trabalho.
Houve uma profunda transformação do trabalho na indústria, com o fim do taylorismo como base filosófica.
1) A qualidade tornou-se fundamental na concorrência, alterando concepções da administração e do trabalho. Pressupõe-se maior descentralização da responsabilidade aos níveis mais baixos da hierarquia, tornando o trabalho mais participativo e autônomo. Reduzem-se níveis hierárquicos e atividades de controle. Há ênfase no trabalho em grupo –horizontalmente (inter-setores e departamentos), entre níveis hierárquicos ou com agentes como os fornecedores.
2) Custos em declínio possibilitam o uso cada vez mais extenso de novas tecnologias de informação. O capital investido em computadores e equipamentos de comunicação nos EUA em 93 equivaleu ao aplicado em máquinas e equipamentos industriais –há 10 anos foi de 20%. Há impactos no chão das fábricas e nos escritórios: melhor atendimento de demandas diferenciadas, com maior flexibilidade de processos produtivos; melhores produtividade e comunicação interna, com clientes e fornecedores; menos níveis de verticalização nas grandes empresas, em articulação íntima com as pequenas.
3) A hiperconcorrência mundial exige um padrão internacional de desempenho. Não há empresa industrial que possa se sentir confortável com posições atingidas em nichos de mercado ou em certas regiões.
Essas transformações levam a organizações enxutas e ágeis, com mão-de-obra qualificada, envolvida e mobilizada. A formação de recursos humanos deve ser diversificada, sistêmica e intensa, com ênfase na capacidade de resolução rápida de problemas, inovação e melhoria permanentes e trabalho em grupo.
O número proporcional de empregos na indústria tende a cair nos países desenvolvidos, com o aumento da produtividade e a mutação do perfil tecnológico. Mas o potencial de crescimento industrial nos países em desenvolvimento –mesmo nos setores tradicionais, ainda relativamente intensivos em mão-de-obra– permite inferir que a indústria ainda terá, por mais algum tempo, relevância na geração de empregos. Mas o aproveitamento de baixos salários e de trabalho pouco qualificado há muito deixou de ser vantagem competitiva.

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