São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Célula de defesa surge em alergia respiratória

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Barry Kay e colegas, pesquisadores ingleses do Instituto Nacional do Pulmão e do Coração descreveram no "Journal of Experimental Medicine" a ocorrência de uma célula específica, o linfócito TH2, que pode estar ligado aos sintomas crônicos da alergia respiratória, como nariz entupido, falta de ar, ronqueira. O interesse principal da descoberta reside na possibilidade de, no futuro, desenvolver meios de neutralização da sua atividade.
Os linfócitos, glóbulos brancos (leucócitos) que exercem muitas ações no processo imunológico, pertencem a dois tipos, B e T. Os linfócitos B produzem anticorpos –substâncias de defesa específicas contra certos alvos. Os linfócitos T desempenham numerosas atividades, correspondentes a vários subtipos. Assim, os linfócitos T auxiliares, ou TH, ativam outras células do sistema, transmitindo-lhes sinais para atacar, multiplicar-se etc. Eles podem, por exemplo, ativar os linfócitos B a gerar anticorpos. Os linfócitos T "assassinos" destroem outras células inimigas. Os T supressores determinam a parada do ataque imunológico. E há ainda as células de memória, que guardam a "lembrança" de ataques do mesmo invasor.
O linfócito TH2 encontrado por Kay e colaboradores aparece nas pessoas que reagem alergicamente ao pólen de certas plantas. Os pesquisadores prepararam extrato de pólen de capim e injetaram-no na pele de 14 voluntários alérgicos, que receberam também, como controle, injeção do líquido sem o pólen. Vinte e quatro horas depois eles colheram amostras da pele dos voluntários e as examinaram quanto ao RNAm (ácido ribonucléico mensageiro). O RNAm é a substância que copia os genes, organizando a mensagem que discrimina os ácidos aminados que devem compor a proteína cuja produção é comandada pelo gene.
Cada amostra é específica para diferentes citocinas, mensageiros químicos que estabelecem comunicação entre as células e são produzidos pela célula T. Como tipos diferentes de linfócitos T produzem tipos diferentes de citocinas, tornou-se possível aos pesquisadores identificar os linfócitos T pelas citocinas encontradas.
A maioria das amostras injetadas com pólen continha RNAm de quatro citocinas distintas, essenciais para a resposta alérgica. Nas amostras de controle (só líquido do extrato) não se observou reação. Os cientistas verificaram que a produção das quatro citocinas é comandada por um compacto agrupamento de genes do cromossomo cinco, e que elas caracterizam também um tipo de célula TH encontrada em camundongos, já identificada como TH2. Eles acreditam que esse tipo de célula (TH2) constitua reação específica a todos as substâncias que desencadeiam alergia. Outros antígenos experimentados, que não despertam reação alérgica, estimulam um linfócito diferente (TH1).
Já conhecemos bem os fenômenos que caracterizam a primeira reação contra as alergias, assunto que tem sido muito estudado, porém sabemos relativamente pouco sobre os efeitos alérgicos tardios. Nesse sentido é muito importante a contribuição de Kay e colaboradores.

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