São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
As teorias que saem do sério
HELIO GUROVITZ
Rede internacional de computadores distribui resumo de publicação humorística sobre ciência O correio eletrônico está entregando piadas aos cientistas através da Internet, rede internacional de computadores. Desde o ano passado, usuários da rede podem receber de graça uma versão reduzida da Revista de Resultados Irreproduzíveis ("The Journal of Irreproducible Results, ou simplesmente JIR), publicação humorística sobre ciência. "Somos descritos como a revista Mad do mundo científico", diz Marc Abrahams, editor da JIR. Os artigos são de pesquisadores sérios. É o resultado, título ou método que causa riso. A edição de dezembro destaca a ciência "politicamente correta". Logo de cara, Robert Rose, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), propõe uma nova Tabela Periódica de Elementos. "Para proteger a saúde e o bem-estar do público", foram retirados os elementos tóxicos, artificiais, poluentes, radiativos, causas de hipertensão e gases que geram efeito estufa. Excluídas também as nomenclaturas "sexistas" –termo politicamente correto para machista ou feminista–, só ficaram cerca de 60% dos elementos que constituem o universo. Thomas Michel, da Escola de Medicina da Universidade Harvard, sugere um guia para a "cardiologia politicamente correta". Não é recomendável, por exemplo, usar o termo "insuficiência da aorta", pois ele informa ao paciente que sua artéria aorta não está sendo "competente". Mais positivo é dizer que há um "fluxo retrógado na aorta", isto é, ele tem a "capacidade" de fazer o sangue voltar atrás. Em vez de dizer que houve uma "falência generalizada dos órgãos", médicos deveriam dizer que o paciente foi "solicitado metabolicamente". Nunca que está morto, o que pode desencorajá-lo a prosseguir em seu novo estado. Ele está "metabolicamente diferente" ou "entropicamente capacitado". Afinal, segundo o autor, "a diversidade cardíaca deve ser celebrada, não denegrida" –apesar de denegrir não ser o maior exemplo de correção política. Outro artigo relata resultados de uma "academia virtual", projeto que trocou os alunos, professores e salas de aula de uma universidade por dispositivos de realidade virtual. Na coluna "Resultados Elegantes", Alice Kaswell dá dicas de estilo, modas e tendências em pesquisa, com base em revistas como "O Colecionador de Tampas de Leite" ou "Resenha do Ciclista Fora-da-Lei". Cada edição da JIR também traz uma entrevista exclusiva com um ganhador do prêmio Nobel. Em dezembro, William Lipscomb, Nobel de química de 1976, faz afirmações profundas como "pessoalmente, não gosta do cheiro de perfume" ou "tecnicamente, não é o amor que faz o mundo girar". Apesar da aparente frivolidade, o conselho editorial da JIR, formado por membros da Sociedade para a Pesquisa Básica Irreproduzível, conta com ganhadores do prêmio Nobel em diferentes áreas. Anualmente, é concedido o prêmio Ig Nobel, inspirado no Nobel. Recebem a honraria aqueles cujas conquistas não podem, ou não devem, ser reproduzidas ( veja o quadro de ganhadores, abaixo). A revista existe desde 1955. Sai a cada dois meses e tem cerca de 10 mil assinantes espalhados pelo planeta. No ano passado, foi publicado o livro "Sex as a Heap of Malfunctioning Rubble" (Sexo como um Monte de Entulho em Disfunção), com artigos selecionados. A Internet, rede computadorizada que liga universidades e instituições de pesquisa em todo o mundo, veicula o mini-Jir, resumo da versão impressa. Cada usuário da rede tem um "endereço", através do qual recebe e envia mensagens pelo "correio eletrônico". A mesagem chega em minutos ao destino. Para receber o JIR, basta enviar uma mensagem aos editores. "E é grátis", diz o editor. THE JOURNAL OF IRREPRODUCIBLE RESULTS, editado por Marc Abrahams. Pedidos de assinatura anual: Blackwell Scientific Publications, 238 Main Street, Cambridge, MA 02142, tel. (001-800) 759-6102, EUA. Preço: US$ 43 (individual) e US$ 62 (bibliotecas). THE MINI-JOURNAL OF IRREPRODUCIBLE RESULTS. Para assinar, enviar a mensagem SUBSCRIBE MINI-JIR, seguida do nome do assinante, para o endereço LISTSERV$MITVMA.MIT.EDU do correio eletrônico da Internet. SEX AS A HEAP OF MALFUNCTIONING RUBBLE (and further improbabilities), Sexo como um Monte de Entulho em Disfunção (e outras improbabilidades, editado por Marc Abrahams. Workman Publishing, 708 Boadway, New York, NY 10013, tel. (001-212) 614-7505, EUA. 1993. Preço: US$ 9,95. Texto Anterior: NÍVEL DO MAR; ASTROS; CÉREBRO Próximo Texto: Artigo ensina a soltar pênis Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |