São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 1994
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Corruptos na revisão

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao que tudo indica, começa amanhã a revisão da Constituição. Ao que tudo indica, João Alves, Ricardo Fiuza e seus colegas vão participar dos trabalhos. Todos eles, incluindo os que venham a ter sua cassação solicitada pela CPI –a qual vai terminando de maneira melancólica, deixando a frustração no ar, uma frustração que ainda vai explodir mais tarde.
Quem afirmava ontem que os corruptos vão mesmo participar da revisão era o deputado Gustavo Krause, um dos que está organizando os trabalhos. "Eu não encontro, não há nenhuma forma de evitar a participação", declarou ele, ao Jornal da Record. Como os corruptos vão estar lá, os organizadores procuram escapar da desmoralização com um jeitinho aqui e ali.
"O que nós podemos fazer é apreciar só as matérias consensuais", disse o líder Tarcísio Delgado, no Opinião Nacional, da Cultura. Um jeitinho que não só permite esconder a participação dos corruptos, como garante que a revisão não vai chegar aos extremos desejados pelos ultraliberais. Quer dizer, está para sair uma revisão que é a cara do PMDB e do PSDB.
CPI atrapalha
Tarcísio Delgado foi o autor de uma frase que deixou bem claro que as prioridades mudaram rapidamente, no centro do poder, em Brasília –ou seja, naquele campo que mistura dos moderados do PFL aos moderados do PSDB, passando pelo seu PMDB. "Nós estamos num esforço enorme para que a CPI não atrapalhe a revisão", foi a frase do líder peemedebista.
Intermediários
Enquanto a revisão atropela a CPI, o relator Roberto Magalhães vai empurrando com a barriga os problemas de um relatório tirado às pressas. Ele, que já andou desmoralizando os papéis da Odebrecht, inventou agora uma nova categoria de corruptos: aqueles que a CPI não teve tempo de investigar, mas que estão lá, escancaradamente, nos ditos papéis.
Foi o que informou o Jornal Nacional, dizendo que a categoria dos corruptos intermediários seria levada à direção do Congresso, que determinaria então se as investigações no caso vão continuar. Um jeitinho de não ser obrigado a dar opinião sobre o caso e garantir que o relatório seja aprovado logo, sem maior polêmica, para não atrapalhar mais a sonhada revisão.

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