São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 1994
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Anjos com problemas

ZECA CAMARGO

Deve haver algum engano. "Angels in America" não pode ser considerada "a peça mais importante dessa geração" nem seu autor, Tony Kushner, pode ser considerado um novo Tennessee Williams –para citar duas críticas recentes da enorme montagem-sensação do teatro americano, agora em cartaz na Broadway.
Aclamada como o grande caminho para o texto contemporâneo (ai!), "Angels" finalmente só traz a vantagem de colocar na cultura "mainstream" o cotidiano homossexual –e especialmente a questão da Aids. Já é muito. Mas os elogios à peça ultrapassam essa questão –e aí começam os problemas.
Tony Kushner é apontado como um revolucionário dramaturgo. Ora, uma peça que, na sua conclusão, se dirige ao público com um tom falso, displicente e diz: "Agora, tchau. Vocês são criaturas maravilhosas", não pode ter nenhuma pretensão de trazer algo diferente. Nem mesmo despojamento.
Em suas duas partes, "Angels in America" traz personagens pouco excepcionais, em situações amorosas e de relação de poder. Infelizmente esses cruzamentos não criam situações dramáticas fortes. Eles apenas dão ao autor espaço para "filosofar" sobre a sociedade americana, sexo, religião e (todos juntos agora!) a solidão do homem moderno diante da confusão urbana.
Com um prêmio Pulitzer já conquistado pela primeira parte e outro previsível a caminho (pela continuação que estreou no mês passado), "Angels in America" deve mesmo ficar na história do teatro americano. Só que mais como a grande oportunidade dos temas gays chamarem atenção em outros universos do que como uma saída original para um impasse da dramaturgia.

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