São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 1994
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Terremoto deixa 21 mortos em Los Angeles

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

O choque veio súbito, como uma explosão, às 4h31 da manhã, no meio do frio e da escuridão absoluta da madrugada de inverno. Depois, o ruído familiar de portas, janelas, vidraças e paredes tremendo, livros, discos e objetos voando das prateleiras ao chão, da louça se espatifando na cozinha.
Energia elétrica, nenhuma. Os telefones, mudos. Durante pelo menos meia hora, enquanto a casa sacudia em todas as direções, em intervalos impressionantemente regulares, não se via nada além de trevas e não se ouvia nada a não ser o rugido subterrâneo do terremoto de 6,6 graus na escala Richter –seguido de uma infinidade de abalos secundários de intensidade um pouco menor– varrendo a planície e as colinas de Los Angeles com uma violência inigualada nos últimos 20 anos.
O tremor foi percebido em Las Vegas, Nevada (480 km a leste), e levou o prefeito de Los Angeles, Richard Riordan, e o governador da Califórnia, Pete Wilson, a decretarem estado de emergência. O presidente Bill Clinton declarou a região "área de desastre", para que possa enviar ajuda federal. A Guarda Nacional foi convocada.
As primeiras informações do CalTech –o Instituto Tecnológico da Califórnia, que monitora a atividade sísmica da região– colocam o epicentro em algum ponto de Northridge, no vale de San Fernando, a imensa planície coberta de subúrbios que se estende ao norte da cidade –e a 5 km da minha casa, situada num canyon das montanhas de Santa Monica.
Aliás, segundo o CalTech, elas cresceram alguns metros com o terremoto: "O vale de San Fernando foi comprimido com o tremor, empurrando para cima as duas cadeias de montanhas que o ladeiam, Santa Monica e San Gabriel", diz no radinho de pilha Kate Hutton, chefe do Departamento de Sismologia do CalTech.
Foi, também um terremoto "superficial", menos de 15 km abaixo da superfície, o que explica sua violência. E não, não foi na famosa falha de San Andreas, mas em outra falha geológica do "bordado" sobre o qual se assenta a segunda maior cidade dos EUA –uma falha menor, 30 km ao sul da San Andreas.
A primeira contagem de danos e vítimas é surpreendentemente baixa –algo que se explica em parte pelo nível de preparo da cidade e pelo fato de o abalo ter acontecido à noite, com ruas, freeways e escritórios desertos. Outro fator foi ele ter acontecido num feriado, dia de homenagem ao defensor dos direitos civis dos negros Martin Luther King Jr.
Em Sylmar, subúrbio de San Fernando –onde um abalo matou 64 pessoas em 1971–, 70 casas foram destruídas. Um trem com 64 vagões descarrilou logo a leste de Los Angeles, com 16 vagões-tanques contendo ácido sulfúrico; não chegou a ocorrer vazamento.
As principais freeways (vias expressas) da cidade estão agora fechadas ao tráfego, com desabamentos e rachaduras. O metrô parou. Os três aeroportos da área metropolitana estão fechados. No vale de San Fernando, mais de cem incêndios pipocam em todos os bairros –os encanamentos de gás e água se romperam, torres de alta voltagem vieram abaixo e há desabamentos. Mesmo assim, a energia elétrica começa a voltar à cidade, o serviço telefônico está se normalizando e temos apenas 21 vítimas fatais (5 por ataques cardíacos), a maior parte no desabamento de um prédio na região do epicentro, em Northridge.
Mas o chão ainda treme –e vai continuar assim por pelo menos 24 horas, como todo angeleno sabe, alguns choques com intensidade de até 5 graus. O abalo principal foi seguido por 35 secundários de 2,0 a 3,7 graus.
Foi o "Big One"? Em termos estritos, não: o "Big One" seria um terremoto da ordem de 8 graus na escala Richter, ao longo da San Andreas. Mas, diz Hutton aqui no meu radinho, "um terremoto de menor intensidade numa área mais densamente povoada poderia ser tão ou mais devastador do que o clássico Big One".

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