São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 1994
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Fernando Henrique não está bem

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A sucessão presidencial não está fazendo bem ao ministro Fernando Henrique Cardoso. E a prova disso estava estampada ontem nos jornais: resolveu duelar com Luiz Inácio Lula da Silva, chamando-o, em essência, de despreperado. Ao cutucar o PT, provocou mais um atrito desnecessário –o partido tem demonstrado a disposição dar o plano contra a inflação.
Em contato com esta coluna, Lula, óbvio, reagiu: "Ele deveria ter a consciência de que, antes de ser candidato, é ministro". Acrescentou: "E, como ministro, tem um fracasso a administrar, que é a inflação de 40%". Sobre o fato de Fernando Henrique participar de distribuição de cestas básicas em Pernambuco, ironizou: "Se fosse o Lula, iam dizer que era populismo e demagogia".
Entre dirigentes do PSDB, levanta-se discretamente uma hipótese: Fernando Henrique tem logo de marcar posição e se transformar no pólo antiLula. Mais discretamente ainda, há parlamentares tucanos suspeitando que o ministro gostaria de minar uma eventual articulação dentro do partido para que o senador Mario Covas desista de se candidatar ao governo de São Paulo, trocando pelo projeto Palácio do Planalto.
A pergunta essencial é a seguinte: essas suspeitas e especulações ajudam ou atrapalham o plano de combate à inflação? Do Uruguai, ontem, Fernando Henrique disse que nem ajuda nem atrapalha. Afirmou que os parlamentares não são "meninos" e "sabem" que o plano não é para um candidato, mas para um país. Correto?
Não. A candidatura presidencial é um obstáculo, e o ministro está consciente disso. Torna-se um obstáculo maior ainda quando ele a ostenta num palanque que distribui cestas básicas. E piora quando resolve duelar com um partido que lhe dá apoio no plano contra a inflação.
Fernando Henrique está correndo o sério risco de passar a imagem de que está mais preocupado com seus projetos políticos do que com o país –e, assim, ferir a respeitabilidade (merecida, aliás) que conquistou na vida pública por ser um político de melhor nível do que a maioria.

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