São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 1994
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O cético acredita

Aos poucos, nas melhores cabeças do país, começa a se consolidar o diagnóstico de que a modernização brasileira já alcançou uma dinâmica irreversível. Emerge dessa análise uma situação muito, mas muito, melhor do que o catastrofismo habitual alicerçado em instabilidades do momento.
É o caso do deputado e ex-ministro Antonio Delfim Netto –no geral, um pessimista militante– no trabalho "Brasil, melhor do que parece", que está no prelo na gráfica da Câmara.
Pela primeira vez, Delfim admite, claramente, os resultados concretos obtidos pela abertura da economia e pelos programas oficiais de produtividade e competitividade –que ajudaram a libertar as discussões nacionais da ditadura do macroeconomismo (que restringe os problemas econômicos a uma mera questão de câmbio, moeda e receita fiscal).
O que animou nosso Diógenes da economia foram os seguintes aspectos:
* Abertura da economia:
O restabelecimento de relações financeiras com a comunidade internacional, a liberalização do comércio, com o aumento expressivo das importações, que acirrou o nível de concorrência interna, fazendo com que o nível tecnológico da economia brasileira passasse a incorporar as novas exigências mundiais.
Até algum tempo atrás, muitos analistas limitavam-se a relacionar os problemas que a abertura gerou para as empresas brasileiras, sem contabilizar o potencial de criatividade e inovação, liberados pela necessidade.
* Privatização:
O deputado reconhece que, apesar do processo "um pouco lento", as privatizações ocorridas, e as 66 por ocorrer, são da maior importância, assim como a privatização futura dos serviços públicos sujeitos ao regime de concessão.
* Papel do Supremo Tribunal Federal:
Na qualidade de primeiro grande pacoteiro da economia, o deputado dá a mão à palmatória e taxa de revolucionário o novo papel do STF –que impôs limites legais à atuação do Executivo, devolvendo a previsibilidade e a proteção aos contratos, nos moldes das sociedades desenvolvidas.
* Revisão constitucional:
Delfim aposta que a revisão permitirá aperfeiçoar e consolidar o quadro institucional brasileiro, ajustando-o ainda mais à nova realidade mundial, de integração e competição. Principalmente com o possível fim dos monopólios, a flexibilização da seguridade social e a descentralização da saúde.
* Legislação trabalhista:
A flexibilização da legislação, em discussão, permitindo a construção de uma relação mais flexível e construtiva entre trabalhadores e empresas, restringindo-se a Justiça do Trabalho às relações de direito entre eles.
* Lado real:
O processo de terceirização permitiu o aparecimento de uma nova geração de pequenas e médias empresas criadoras de talento empresarial.
O deputado não mencionou, mas o fim da ditadura das empreiteiras nas obras públicas e o combate sistemático aos cartéis privados propiciará oportunidades que ajudarão a florescer mais rapidamente as novas pequenas e médias empresas, que estão renovando a vida empresarial nacional.
* Questão fiscal:
Delfim atribui problemas fiscais à inação de Brasília, não a questões estruturais. Delfim atribui os problemas do governo a mais uma questão de vontade política, que vai acabar se realizando.
* Questão política:
As medidas de aperfeiçoamento político em andamento, com menos partidos representados no Congresso, permitindo maior cobrança dos deputados.

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