São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 1994 |
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Vida e Morte são as palavras do temível P
DAVID DREW ZINGG
Na Era Jurássica, quando eu era mais jovem –e muito mais bonito– usávamos palavras cifradas, como "a coisa" ou "pé-de-cabra", quando queríamos nos referir aos nossos próprios órgãos genitais masculinos. Agora, graças à descida da ladeira do respeito que a sociedade tem por si própria, qualquer coisa vale como conversa educada. Bem lá atrás, quando eu era um jovem inexperiente, eu aprendi a usar a língua do "f" e a língua do "s" com um sargento do exército. Hoje, nesta idade de pretensa iluminação, meus jovens amigos usam tais palavras como tempero para sua linguagem diária. Eles fariam meu velho professor do exército corar de vergonha. Eu não posso responder facilmente a perguntas óbvias como "sou eu um velho retrógrado?" ou se a maioria das pessoas hoje simplesmente perdeu a auto-estima, já que a TV diariamente despeja sua carga de demolição social e lixo mental na forma de "entretenimento" e "notícia". Tenho assistido à cobertura ao vivo da Batalha dos Bobbits no que costumava ser minha janela eletrônica favorita em todo o mundo, a CNN. A rede de TV 24 horas tem transmitido ao vivo o julgamente da probre sra. Wayne Bobbit, acusada de serrar o "pé-de-cabra" do marido em um rompante de desespero sexual. Como todo mundo que assiste à TV deve saber –mesmo aí na Sambalândia– a pobre foi dolorosamente provocada. Testemunhas declararam que o maridão de Lorena Bobbitt, um ex-mariner, é um animal. De acordo com uma testemunha juramentada, seu prazer sexual, como o de muitos homens inseguros, consistia em forçar sua mulher de maneira a imprimir dor a ela e prazer a si mesmo. Lorena Bobbit é uma simpática garota do Equador educada como católica. Ela foi treinada para achar que os homens sempre estavam certos, começando com seu Senhor, Jesus Cristo, depois o padre da paróquia, seguido do pai e culminando com aquele soberano especial, seu marido. Quando Lorena era torturada à loucura por seu esposo sádico, ela quebrava a tradição secular da mulher como escrava sexual particular do senhor da casa. É improvável que a sra. Bobbit tenha lido Sigmund Freud. Freud teria sido o primeiro a explicar a atitude de Lorena como um caso clássico de vida ou morte imaginária. Para sobreviver, Lorena Bobbit encarou o mal que ameaçava sua sanidade, deixou sua subconsciência dirigi-la por uns instantes e cortou o mal pela raiz. Agora, graças ao seu instinto pela vida, ela está somente em julgamento, e não trancada numa solitária, como certamente estaria se John Wayne Bobbit prolongasse por muito tempo seu divertimento forçado. E graças aos instintos mais primitivos da máquina eletrônica de notícias e entretenimentos, agora se tornou permissível usar a assustadora palavra tomando uma minestrone durante aquele sagrado ritual familiar, o jantar. Está tão frio que... Está tão frio, que comecei a congelar partes do meu corpo que eu nem sabia que existiam. Está tão frio, que ontem à noite tive de abrir o frigobar para aquecer o meu quarto de hotel. Está tão frio, que ontem fui atacado por um homem de neve que queria o meu casaco. Está tão frio, que ontem fui a um sex-show onde todas as stripers estavam usando ligas aquecidas por eletricidade. E pensar que vocês estão todos na praia. E o vencedor é... Este é o momento do ano para pensar em tudo o que foi bom e mau no ano passado. Já que o tio Dave é um perverso e velho careca, ele vai se prender apenas ao que foi realmente ruim. Gostaria de fazer minha lista do que foi realmente odioso no ano passado na Sambalândia, mas tenho duas boas razões para não fazê-la: 1) Ruim é tudo o que se pode ler nos jornais hoje, então para que tornar as coisas ainda piores?, e 2) Segundo a generosa lei de imprensa brasileira, eu poderia acabar sendo expulso dessa terra maravilhosa. Como iria soar você acordar na quinta de manhã com aquela abominável ressaca, querendo alguém para te animar? Então acho que vou escolher um país do meu próprio tamanho –Gringolândia. Anunciando um novo evento anual planetário –o Prêmio para Pessoas Inaceitáveis do Tio Dave. Eu gosto do presidente Bill Clinton, mas no ano um da ocupação de Washington D.C. por Arkansas, ele criou um ambiente rico em alvos para os prêmios anuais do Tio Dave. Itamar Franco desve estar morrendo de inveja quando pensa no insuperável talento de Clinton para compromissos políticos idiotas. O mais espantoso presente de Clinton à América é a cirurgiã-geral negra Jocelyn Eldors, uma espécie de ministra da Saúde. Os mais velhos estudaram cirurgia oral e podiatria, o melhor método para extrair o pé dela de dentro da boca, que é onde ele costuma se alojar. "Primeiro grau não é cedo demais para ensinar às crianças educação sexual básica", aconselha a boa doutora. "Nós deveríamos ensinar às crianças o que fazer no banco de trás de um carro", acrescenta a Martha Suplicy do estetoscópio. Dava até para imaginar que a esperta médica seria a primeira pessoa da equipe de Clinton a defender a legalização das drogas. Uma semana depois, seu filho foi preso por vender um bocado do famoso Pó Boliviano de Sacudir para um tira disfarçado. O Prêmio Médico Cure-se Você Mesmo do Tio Dave para a boa médica. O Brasil teve uns ministros da Justiça perfeitamente aparvalhados, mas alguns dos mais famosos cabeças-de-bagre locais teriam dificuldade em ser uma ameaça á vida e à propriedade, maior que a ministra da Justiça de Clinton, Janet Reno. A sra. Reno se preocupa de verdade com as crianças. Eis por que ela ordenou o famoso ataque armado contra uma comunidade religiosa no Texas. Apenas 24 crianças foram mortas, ao lado de 62 adultos, muitos deles pais. Reno ama crianças, como sabemos, mas quando seu amor entra em choque com suas fortes atitudes liberais, o liberalismo da sra. Reno ganha de longe. Num caso famoso (Knox X EUA) seu Departamento de Justiça tentou com empenho enfraquecer as leis contra o uso de crianças em pornografia. O muito apreciado Prêmio Wyatt Earp do Tio Dave para a dama. A última na lista estelar de hoje das amigas engraçadas de Clinton é (som de rufar de tambores) a embaixadora americana da Boa-Vontade junto ao Fundo de População das Nações Unidas, sua excelência sra. Ted Turner. Melhor conhecida por você, Joãozinho, como Jane Fonda, a princesa da aeróbica. Fonda tem um profundo interesse em controle populacional. Os regimes que ela apoiou durante a década do amor lidavam vigorosamente com seu excesso populacional usando o famoso método Pol Pot. Madame embaixadora é uma dedicada feminista de Hollywood. Ela também tem o hábito de se adaptar ao parceiro do dia. Quando era casada com o diretor francês Roger Vadim, ela era uma bufante boneca Barbie. Quando casou com Tom Hayden, tornou-se uma revolucionário de Rodeo Drive. Hoje, que é sra. Ted CNN Turner, ela se tornou uma ambientalista xiita e uma especialista em população. Vai para ela o Prêmio Se Resmunga Como um Papagaio Então Deve Ser um Papagaio, de Tio Dave. Texto Anterior: Prêmio Shell divulga os finalistas em São Paulo Próximo Texto: Ministro da Cultura anuncia mais recursos para a produção de filmes Índice |
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