São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 1994
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Opção de Classe

MARCELO COELHO

SÃO PAULO – O senador Esperidião Amin (PPR-SC) é uma presença hipnótica, fascinante nas telas de TV. Hesitando entre a incredulidade e a simpatia, o espectador se surpreende ao ver sua figura, mais afeita aos seriados de ficção científica do que aos noticiários da noite.
Maravilhados, constatamos que ele existe. E que, ao ser entrevistado, sorri cada vez que vence uma pergunta dos repórteres. Não é difícil, comprovada a sua realidade material, gostar do senador Amin. Seu correligionário Paulo Maluf é certamente mais robótico, mais mecânico do que ele. Apesar da calva, Amin não parece um Lex Luthor, um gênio do mal.
Mas eis que o senador ganha destaque ao propor uma CPI da CUT.
Numa entrevista à TV Manchete, Esperidião Amin descartou motivações eleitorais nessa iniciativa. Mas foi aí que o jornalista Paulo Markun perguntou: "E que tal, ao lado de uma CPI da CUT, uma CPI da Febraban, da CNI, da Fiesp, dos órgãos do empresariado?"
O bravo senador julgou responder à altura, dizendo-se aberto e interessado em tentativas do gênero se vierem a ser propostas.
Só que não é ele quem propõe uma CPI da Febraban ou da Odebrecht por exemplo. Nem a maioria do Congresso parece interessada em denunciar as empreiteiras, os grupos econômicos que financiam campanhas eleitorais.
Por mais que se negue, o intuito político-eleitoral de uma CPI da CUT é evidente. Há uma opção de classe –investigar sindicatos operários em vez de sindicatos empresariais. Jogar poeira na candidatura Lula e não chamar atenção para o caso Pau Brasil ou para as empreiteiras.
Toda corrupção e irregularidade, venha de onde vier, deve ser investigada. Mas há uma tendência a fazer da luta contra a corrupção um álibi, um disfarce para os interesses de classe em jogo no momento. É como se, na luta contra a corrupção, todos os gatos fossem pardos. E a distinção entre esquerda e direita, óbvia nesse episódio, ainda assim é contestada por alguns.

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