São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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Depois da CPI

MARCELO COELHO

SÃO PAULO – É verdade que a CPI do Orçamento poderia ter aprofundado mais as suas investigações, que a coisa toda terminou um pouco cedo, e que se fosse o caso de fazer uma devassa completa no Legislativo, inúmeros outros exemplos de corrupção e irregularidade seriam descobertos. Sobraria pouca gente.
Mesmo assim, não foi pouco o que se conseguiu. Qualquer pessoa acostumada a reclamar dos vícios do Congresso –inoperância, corporativismo, insensibilidade diante da opinião pública– estava tentada a prever que a CPI "terminaria em pizza".
Bem ou mal, prognósticos desse tipo foram em grande parte desmentidos. A sociedade brasileira, ou melhor, a opinião pública, pode incluir o trabalho da CPI na lista de suas vitórias.
Claro que ainda há muito a fazer no combate à corrupção. Para além dos assuntos já em pauta –caso Quércia, caso Paubrasil, financiamentos de campanha– há entretanto outro problema, que escapa ao âmbito puramente investigativo, policial ou punitivo.
É que cassar os corruptos não é tudo. Importa não eleger outros. E aí começa uma série de novas dificuldades.
A mesma sociedade que, hoje, celebra uma vitória se arrisca, nas próximas eleições, a ter como representantes pessoas não muito melhores do que aquelas execradas atualmente. Apesar de toda a CPI, nada garante que o próximo Congresso venha a ser nitidamente superior ao atual –com figuras admiráveis, mas também uma grande proporção de fisiológicos e de anões.
Cogita-se de inovações técnicas de modo a impedir manipulações e abusos no orçamento. Tão ou mais importante do que isso, contudo, é a reforma do sistema eleitoral.
Do voto facultativo ao sistema distrital misto, dos limites para os gastos de campanha à proporcionalidade da representação popular na Câmara dos Deputados, todo um esforço está por ser feito no sentido de evitar que a vontade do eleitor seja fraudada com o sucesso de políticos tão ruins quanto os acusados pela CPI. Com João Alves ou sem ele, a fisiologia e a corrupção vão continuar, se o sistema eleitoral que o beneficiou continuar intacto.

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