São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 1994
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Berzoini ganha eleição nos bancários de SP

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ricardo Berzoini acaba de se eleger presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, a entidade que mais contribui para o orçamento da CUT e que arrecadou US$ 12 milhões em 93. Por 32.961 votos a 22.174, a Chapa 1, da situação, derrotou a Chapa 2, de oposição.
Berzoini disse que ficou "triste" com os métodos de campanha usados pela Chapa 2 e que vai propor uma discussão no PT sobre o assunto. "Acho que eles estão trabalhando contra o próprio PT e a CUT." O novo presidente quer também fazer uma "aliança com a sociedade" para discutir transformações no sistema financeiro, "um dos nós principais da crise econômica".
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Folha - Qual você acha que deve ser a relação da CUT com essas correntes minoritárias, representadas na eleição dos bancários pela Chapa 2?
Ricardo Berzoini - A convivência com todas as correntes políticas é extremamente saudável quando existe uma relação de respeito mútuo. É preciso construir dentro da sociedade uma ética no relacionamento político em que se trabalha as grandes divergências de concepção, as grandes divergências de método, de uma maneira respeitosa. E infelizemente hoje nós vemos dentro da CUT um relacionamento que não é tão ético assim.
Folha - Por exemplo.
Berzoini - Na nossa eleição nós vimos acusações levianas, gratuitas, contra mim, o Gilmar Carneiro (atual presidente do sindicato) e a nossa chapa, que nos deixaram tristes não pela acusação pessoal, mas pela falta de rigor em termos de método, de prática, da capacidade de respeitar os militantes que estão há vários anos trabalhando em benefício da categoria. Nós entendemos que dentro da CUT as relações com essas corrente têm de ser duras no seguinte sentido: as deliberações majoritárias da central têm de ser respeitadas por toda a CUT.
Folha - Quais deliberações da CUT foram criticadas publicamente por essas correntes?
Berzoini - Quando a CUT decidiu, por consenso, participar de negociações com o governo Collor. Os setores minoritários passaram a fazer disso uma bandeira para tentar caracterizar Jair Meneguelli (presidente da CUT) e outros dirigentes como pelegos ou traidores. A CUT deliberou em Congresso a participação nas câmaras setoriais e o pessoal continuou trabalhando como se as câmaras fossem capitulação.
Folha - O que devem fazer, se discordam do aprovado?
Berzoini - Eles deveriam fazer as críticas nos fóruns e tentar com isso fazer crescer o nível de debate interno. Para nós, quando se usa esse instrumento como uma forma de tentar novos apoios, muitas vezes eles se igualam a Esperidião Amim (senador do PPR-SC) ou a Campos Machado, que estão hoje atacando o Sindicato dos Bancários de São Paulo, dizendo que financia o PT, o que não é verdade.
Folha - Você acha que o comportamento dessas correntes deveria ser discutido no PT?
Berzoini - No caso do partido, particularmente, eu pretendo, no mínimo, propor que se abra um debate sobre esse tipo de método e sobre a ética partidária. Por exemplo, quando militantes da Chapa 2 usaram recortes de matérias de jornal onde o Campos Machado faz acusações levianas contra o nosso sindicato, acho que eles estão trabalhando contra o nosso próprio partido e contra a CUT. Então quando um militante do PT faz isso contra um outro militante do PT, eu acho que está havendo, no mínimo, além da falta de ética, inclusive pessoal, humana, está faltando ética partidária. Não é possível que militantes partidários continuem se utilizando em processo eleitorais de procedimentos oportunistas.
Folha - O que você acha da CPI da CUT?
Berzoini - É uma das manobras que setores conservadores querem fazer para tentar comprometer a imagem da central e principalmente para tentar criar a imagem de que existe um esquema mafioso de apoio ao Lula, um esquema que passa por desviar recursos de sidicatos, por utilizar a estrutura do sindicato para interesses partidários. Eu acho que eles vão quebrar a cara, porque vão ver que até existe uma postura até meio moralista dos dirigentes sindicais. Pode ser que um ou outro sindicato tenha problema por ação de um ou outro dirigente. Mas no geral eles vão é fazer crescer a candidatura do Lula, porque a exposição na mídia que ele vai ter vai fazer aflorar um debate sobre a questão da luta de classes no Brasil.
Folha - Você acha que o assassinato de Oswaldo Cruz Jr., do Sindicato dos Rodoviários da ABC, pode prejudicar a CUT?
Berzoini - Acho que a CUT nacional e estadual estavam tratando bem a questão até ocorrer esse incidente. Haviam procurado ambas as partes que estavam em disputa no sindicato e proposto a realização de um plebiscito para ver quem ficaria com a direção. Houve a concordância das duas partes. Infelizmente uma atitude tresloucada de uma pessoa que provavelmente não tem nem preparo político, não entende a importância de um sindicato na disputa política nacional, nas lutas dos trabalhadores, e que tentou resolver o impasse a bala. Esse incidente acabou ganhando uma dimensão que não corresponde ao que estava ocorrendo.
Folha - O setor bancário é o que mais investe em tecnologia. É preciso impedir que a tecnologia seja implantada para garantir o emprego?
Berzoini - Se parte da premissa errada que a nova tecnologia necessariamente elimina emprego. Na verdade as novas tecnologias podem servir para ter ganhos de qualidade de vida, qualidade de trabalho e para o cliente do banco. São US$ 3 bilhões aplicados em tecnologia em 93 e US$ 2 bilhões em 92. Mas você vai nas agências e continua existindo a mesma fila enorme, a mesma qualidade de atendimento. Os bancos, quando investem em automação, querem se apropriar de 100% do resultado daquela nova nova tecnologia, quando eles deveriam repartir esses resultados com a sociedade e com seus empregados.
Folha - Como?
Berzoini - O caixa ou qualquer outro trabalhador que lide com terminal de computador, por exemplo, poderia ter uma carga de trabalho menor para reduzir as doenças profissionais que são hoje um escândalo na categoria. Outro exemplo: as agências que têm 20 guichês de caixa mas apenas cinco ou seis caixas trabalhando poderiam ter 15, 20 pessoas operando. E quando nós trabalhamos com a idéia de fazer uma aliança com a sociedade para discutir o significado dos bancos e o papel que eles têm na sociedade, é exatamente no sentido de buscar esse consenso social.
Folha - Você acha que deveria ter alguma câmara setorial para o setor bancário?
Berzoini - Acho bastante positiva a idéia de fazer uma câmara setorial para o setor financeiro. Eu duvido que os banqueiros tenham disposição de fazê-la. Os bancos são um dos setores mais atrasados do patronato brasileiro em capacidade de compreender um projeto de desenvolvimento nacional. Mas nós já propusemos anteriormente e voltamos a propor que, seja com nome de câmara setorial ou com outro, nós consigamos sentar e discutir os interesses dos bancários, dos bancos e da sociedade em relação ao sistema financeiro. O sistema financeiro hoje é um dos nós principais da crise econômica que a gente vive. Na questão da dívida interna e dívida externa está uma relação perniciosa entre o Estado e o sistema financeiro. A gente trabalha com a idéia de que ou se transforma o sistema financeiro ou a crise não vai ter fim.
Folha - Você é da Articulação, sindical e partidária, assim como o Lula. No caso de ele ser presidente, não haveria perigo de o sindicato dos bancários passar a compor com o governo?
Berzoini – A Articulação Sindical envolve mais partidos do que os militantes apenas do PT. Tem militantes do PSDB, do PDT e até do PMDB. Nós temos uma visão de que um sindicato não pode de jeito nenhum estar atrelado a um projeto partidário. Se o Lula se eleger presidente, o sindicato dos bancários e a CUT devem ter uma posição de independência.

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