São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Hooligan' só se interessa por futebol e mulheres

DA REPORTAGEM LOCAL

A conjunção de horários (em dias de semana à tarde) e ingressos grátis nos jogos transformou a Copa São Paulo de Futebol Júnior em um foco privilegiado de adolescentes baderneiros.
O perfil destes "hooligans" (palavra inglesa que designa torcedores desordeiros) é quase sempre semelhante: são adolescentes, moradores das periferias de São Paulo, andam em grupos e se interessam por pouco mais que mulheres e futebol. Alguns vão para o estádio com o propósito declarado de arrumar confusão –muitos não sabem o nome de sequer um atleta em campo.
Márcio "Magrão", 19, é da Mancha Verde há cinco anos, viu todos os jogos da Copa São Paulo e diz que tenta ficar fora de confusão. Ouve pagode e olhe lá. Nem filmes, nem livros, nem nada. Até o boné do Los Angeles Lakers que usava era "só de onda". "Não curto basquete, só futebol."
Na última terça-feira, cerca de 30 palmeirenses foram presos com bombas caseiras. Na saída da derrota do seu time para o Londrina, no Parque Antarctica, eles se dedicaram a tomar camisas de são-paulinos que iam para o Pacaembu e apedrejar ônibus. Acabaram na delegacia, mas por serem menores foram liberados.
As vítimas mais indefesas dos torcedores são os ambulantes dos estádios. Os arrastões para roubar mercadorias têm sido cada vez mais frequentes. "Eu faturo até CR$ 30 mil por jogo, mas às vezes perco toda a mercadoria porque me roubam na arquibancada", lamenta Teresa Souza na porta do Pacaembu. O dublê de ambulante e torcedor do Palmeiras Gilberto da Silva fica desde 71 na porta do Palestra Itália ou acompanha o time em jogos em outros estádios, sempre com seu isopor de refrigerante e cerveja gelada. "Teve um dia que foi brabo aí, todo mundo lá dentro dançou", conta, "mas aqui fora ninguém mexeu comigo. O pessoal me respeita", diz, com a autoridade de seus 90 kg.
A onda de violência entre torcedores e contra ambulantes e moradores das imediações dos estádios levou a PM a deslocar cerca de 270 homens para os jogos. Para a fase final, o 2.º Batalhão de Choque prevê 350 soldados (fora o policiamento de apoio), o mesmo efetivo do Hollywood Rock.

Texto Anterior: Times são responsáveis pelas suas torcidas?
Próximo Texto: PM assusta mais que "inimigos"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.