São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Empresários pagaram por carta fria no golpe à BM&F

DA REPORTAGEM LOCAL

O contador Kleber Oliveira Costa confessou ter falsificado cartas de fiança em nome do Banco Mercantil do Brasil, de Belo Horizonte, usadas pela corretora Finance para obter recursos junto ao mercado de ouro da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Para isso teria recebido, em dezembro, o equivalente a US$ 100 mil dos donos da corretora. A BM&F foi lesada em US$ 6,3 milhões.
Segundo o delegado Pedro José Liberal, que conduz o inquérito, em sua confissão Costa disse que "ninguém sabia" da falsificação. Isso, disse o delegado, "isenta em parte" os empresários mineiros Eduardo Conrado Ferreira e seu futuro sogro, Duarte Ferreira Pena, donos da Finance. Eles vão continuar respondendo a inquérito.
Pena e Ferreira estão presos desde domingo no 1º DP. Eles foram atraídos a São Paulo pelo economista e engenheiro Rômulo de Avellar. Responsável pela intermediação entre a Finance e a corretora paulista Interfloat, credenciada a operar na BM&F, Avellar foi preso em flagrante há uma semana. Sua intenção era rolar a dívida de CR$ 3 bilhões da Finance, contraída em dezembro, apresentando à Interfloat nova carta de fiança, no valor de CR$ 10 bilhões. A corretora checou a origem dos documentos. Eram falsos.
Ferreira e Pena adquiriram vários bens com o dinheiro da Bolsa. Segundo o delegado, eles compraram pelo menos 15 linhas telefônicas, vários automóveis (quatro Omega e pelo menos um Mercedes-Benz), uma fazenda e uma imobiliária. Eles também adquiriram uma lancha usada de 38 pés por US$ 128 mil e encomendado outra, de 42 pés, por US$ 335 mil.
Também está envolvido no caso o gerente do Citibank em Belo Horizonte Flávio Castilho. Ele apresentou Costa a Pena e Ferreira. O delegado disse que "se for esperto", Castilho deve se apresentar à polícia. Liberal não pretende ir a Camandatuba, onde o gerente se encontra em férias. Em nota emitida ontem, o Citibank não se responsabiliza pela eventual participação do funcionário na fraude e diz que pretende aguardar a apuração pela polícia.
Segundo o advogado criminalista Marcio Thomaz Bastos, todos os acusados podem ser indiciados por estelionato, falsidade ideológica ou na Lei do Colarinho Branco. Se condenados, cumpririam penas de um a cinco anos de prisão.

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