São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Virtuoses marcam a temporada erudita

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O ano promete ser agitado em concertos e recitais. Associações culturais –como Mozarteum Brasileiro, Cultura Artística e Patronos do Theatro Municipal– ainda estão para fechar as principais estrelas da temporada. No entanto, já é possível destacar atrações. Certeza, uma: este é o ano dos grandes solistas.
A Cultura Artística está ultimando o contrato para o recital da soprano norte-americana Kathleen Battle para o fim do ano, provavelmente setembro ou outubro, no teatro Cultura Artística. A SCA fixou seus patrocinadores e já não depende dos assinantes para trazer medalhões. Lucrou no último ano com a vinda da soprano neo-zelandesa Kiri Te Kanawa. Battle é um nome de peso na cena lírica e deve fazer um recital com piano. Sua especialidade é Gershwin e impressionistas. Seu cachê, menos salgado que o de Kiri: US$ 100 mil contra os estimados US$ 350 mil da "dame" maori.
A temporada tem início em abril, com a Orquestra Filarmônica de São Petersburgo, uma das melhores do mundo, no Cultura Artística em São Paulo e no Municipal do Rio. O violinista israelense naturalizado norte-americano Isaac Stern sola à frente da Orquestra Ferenc Liszt de Budapeste. Stern esteve no Brasil no início dos anos 70 e é um dos grandes músicos do século. Sua segunda vinda é idéia dos Patronos do Municipal.
O Mozarteum transporta para o Municipal em junho a Orquestra da Academia Nacional de Santa Cecília, de Roma, de alto prestígio. O violoncelista russo Mstilav Rostropovitch chega em julho e se apresenta nos municipais de Rio e São Paulo.
Para confirmar a fama de ano dos solistas, em setembro fazem recitais o flautista francês Jean-Pierre Rampal e a pianista portuguesa Maria João Pires, desta vez solo, trazida pela empresária Glória Guerra. Em novembro vem o violinista Yehudi Menuhin, que concorre com Stern pela coroa de virtuose-mor.
Em música de câmara as atrações são o Australian String Quartet, em abril, uma incógnita, trazido pelo Mozarteum, o afiado Quarteto Philarmonia de Berlim, em junho, e o I Musici di Montreal, grupo de certo prestígio na música histórica, em setembro.
Quatro boas orquestras se exibem no segundo semestre: as sinfônicas de Varsóvia (regência de Kristoff Penderécki), de Lille, Bamberg (sob a batuta de Christoph Eschenbach) e a New World Symphony Orchestra, regida pelo maestro norte-americano Michael Tilson Thomas. Estrela ascendente e responsável pela versão definitiva do musical "On the Town", de Leonard Bernstein, lançada no último ano pela Deutsche Grammophon, Thomas costuma reger com gestualidade histriônica próxima à de Bernstein.
Apesar da alta qualidade dos calendários, falta aos promotores de espetáculos fugir da "mainstream" neo-romântica. A exceção dos Solisti Aquilani (maio) e o I Musici de Montreal, o som histórico não se faz presente. Música contemporânea, nem pensar, a não ser o tradicional Festival de Música Nova de São Paulo e os planos (ainda planos) do secretário de cultura do Estado, que pretende trazer um compositor contemporâneo para o Festival de de Campos do Jordão, talvez o italiano Luciano Berio. Os dois eventos acontecem em julho. A ausência dos extremos –música antiga e contemporânea– empobrece a temporada.

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