São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Chamem o José Simão

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O prefeito Paulo Maluf mandou um recado ao governador Antônio Carlos Magalhães: é capaz de apoiá-lo na disputa presidencial. A candidatura seria embalada numa composição entre PPR (ex-PDS) e PFL. Confesso: só conseguiria analisar com a profundidade necessária e tom adequado essa aliança, caso tivesse o humor debochado do José Simão.
Na onda das pesquisas de opinião, ACM e Maluf elegeram como uma de suas principais bandeiras a luta contra a roubalheira. Maluf chegou a dizer que era mais "honesto do que Cristo", em meio ao escândalo da Paubrasil; ACM, apesar de ter sido o mais importante político a lutar contra o impeachment de Fernando Collor, faz uma cruzada pela moralidade pública.
Um dos responsáveis pela má imagem de Maluf é, vejam só, o próprio ACM. O governador chamava-o, de boca cheia e por todos os cantos, de "corrupto" e "ladrão" –quem duvida, basta ver os vídeos da sucessão de 1984. E, Maluf, revidando, dizia que ACM não tinha "moral" para falar em corrupção, fazendo insinuações nada sutis sobre o patrimônio de sua família.
Não é só. O PFL foi criado única e exclusivamente por causa de Maluf. Não o aceitavam como candidato do então PDS e, assim, viabilizaram a eleição de Tancredo Neves, do PMDB. Maluf era, na época, a própria encarnação do "diabo", uma "desgraça" à nação.
Diziam até que, com sua eleição, haveria o risco de guerra civil. O que era uma evidente mentira e manipulação eleitoral –especialmente frágil vindo do PFL, que se mostrou um dos pólos mais vivos da fisiologia nacional.
Eles podem até se unir –o que é normal na política. Mas, no mínimo, eles terão de dizer se foram levianos no passado, trocando acusações sem fundamento. Ou se, agora, estariam coniventes.
PS – Sobre ACM, faço aqui uma ressalva. Apesar de sua notória truculência e mesmo crueldade com adversários, ele conseguiu criar um filho que, pelo menos até agora, está se mostrando no Congresso apto ao jogo democrático. Prova disso é que Luís Eduardo Magalhães vem recebendo elogios de parlamentares adversários por sua educação e civilidade.

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