São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Sem projeto

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO – Mais uma vez, as chamadas forças da iniciativa privada chegam ao ano eleitoral sem a definição de um candidato à Presidência capaz de encarnar um projeto de desenvolvimento que não se limite à simples continuidade deste capitalismo, selvagem e concentrador, que dá ao Brasil um PIB maior do que o da Argentina, México e Chile juntos, e indicadores sociais de padrão africano.
As elites capitalistas brasileiras continuam relacionando-se com o Estado e o sistema político de uma maneira predatória e suicida. Aos clamores por maior racionalidade governamental, abertura econômica, eficiência e competitividade contrapõem-se as conhecidas práticas de obtenção de vantagens por métodos sujos e de descarada instrumentalização do setor público para benefícios privados.
O Brasil, para boa parte de suas elites, continua sendo uma grande fazenda, e a República, a prefeitura interiorana, na qual se manda e desmanda ao sabor das necessidades dos coronéis.
O discurso da modernização econômica e política ainda é uma fantasmagoria, solta no espaço, à qual corresponde, na realidade, uma cultura capitalista arcaica e predatória.
Em 89, foi o que se viu. Incapaz de articular-se em torno de um projeto nacional e de um político que o representasse, a iniciativa privada acabou embarcando no bonde de um aventureiro, que –embora a simbolizasse muito bem, naquilo que tinha de moderno e selvagem– acabou contribuindo, com seu naufrágio, para expor espetacularmente e reafirmar as conhecidas mazelas do "modus operandi" do capitalismo tapuia.
Quem será o homem a bater Lula? Esta é a pergunta que faz o meio empresarial. Os candidatos se apresentam: Antônio Carlos Magalhães, Maluf, Fernando Henrique... Discute-se qual deles teria mais chances, raciocina-se em torno de capacidade eleitoral, polemiza-se sobre a "viabilidade" deste ou daquele nome.
Não se pensa, porém, naquilo que é fundamental: que projeto as elites podem oferecer, além da manutenção das atuais regras do jogo, da perpetuação e do aprofundamento da vergonhosa divisão social e econômica do país?

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