São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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'Fiquei entre rezar e trabalhar'

AURELIANO BIANCARELL

Da Reportagem Local
Do alto de um prédio vizinho, eu podia ver o telhado do Joelma. As pessoas sobre as telhas estouradas se contorciam. Umas acenavam, outras estavam sentadas, quietas. Muitas estavam morrendo, mas não se ouviam seus gritos.
Eu estava ali como repórter e não sabia se contava os mortos ou se rezava. Todos queriam um milagre, mas ele não vinha. Os primeiros helicópteros rodopiavam e não conseguiam chegar perto.
Pessoas escurecidas pela fumaça se agarravam na sacada das janelas tentando escapar. Sempre que o vento empurrava as chamas para uma das janelas, alguém pulava.
Lá embaixo, a multidão ocupava todo o viaduto do Chá e a calça do viaduto que leva ao Anhangabaú. Próximo ao prédio, a polícia se esforçava para conter as pessoas que procuravam por parentes. Os corpos caídos sobre o pavimento eram cobertos com jornais.
Quando o fogo terminou e os bombeiros subiram pelas escadas, começaram a descer os corpos em caixões improvisados. As pessoas saíram de hospital em hospital procurando parentes. Na madrugada do sábado, centenas delas esperavam do lado de fora do IML. Na redação, as pessoas evitavam conversar. Foi o dia mais triste que a cidade viveu. (Aureliano Biancarelli)

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