São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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Bombeiro teve vontade de pular

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O tenente-coronel Roberto Lemes da Silva, 48, conta que ficou com vontade de pular do alto do Joelma quando viu os 60 corpos encolhidos no telhado. "Nós fomos treinados para salvar. Mas tudo que nos restava ali era recolher os mortos."
Na época, Lemes era tenente do Grupamento de Busca e Salvamento comandado pelo capitão Caldas. Tinha trabalhado também no incêndio do Andraus, onde as pessoas foram salvas no topo do prédio pelos helicópteros. "No dia seguinte daquele incêndio, a manchete dos jornais dizia que a salvação tinha vindo dos céus. Quando o Joelma pegou fogo as pessoas se lembraram disso e correram para o telhado. Encontraram a morte."
As chamas subiam pela face que dá para a praça das Bandeiras e eram levadas pelo vento para o lado da avenida 9 de Julho. "Quase todas as pessoas que estavam no telhado daquele lado morreram. Sem ar, elas se apoiavam no parapeito para respirar, mas o calor era tanto que estourava seus pulmões."
Lemes ajudou a salvar vidas em todos os grandes incêndios ocorridos em São Paulo. Um dia, ao ser chamado para socorrer as vítimas de um acidente de carro, encontrou seu filho morto entre as ferragens. Não quis mais ser bombeiro. Hoje chefia o Centro de Suprimento e Manutenção da PM. (AB)

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