São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil sedia encontro mundial de neuróticos

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil será a sede, em novembro, do 3º Encontro Mundial de Neuróticos Anônimos. A pauta do encontro ainda não está fechada. Grupos –ou "irmandades", como eles se autodenominam– de sete países devem comparecer, entre os quais representantes dos Estados Unidos e México.
O primeiro grupo de Neuróticos Anônimos (N/A) nasceu nos EUA, em 1964, com base no programa de auto-ajuda de "doze passos" dos grupos de Alcoólatras Anônimos. O primeiro grupo brasileiro, inspirado no norte-americano, foi fundado em 1969. Hoje, há 360 grupos espalhados pelo Brasil –55 na Grande São Paulo.
As reuniões são realizadas normalmente em igrejas, mas os N/A se declaram não-filiados a qualquer religião ou seita. Na última sexta-feira à noite, a reportagem da Folha acompanhou um encontro do grupo de Santana (zona norte), que contou com a participação de cerca de 60 pessoas, instaladas em um salão na Igreja Santana.
"Boa noite, amigos. Meu nome é Sérgio. Eu sou um neurótico em recuperação". Assim começa a reunião. Comandados por um voluntário (sem qualquer formação terapêutica), os neuróticos têm dez minutos para falar dos seus problemas. Por neurótico, os N/A entendem "qualquer pessoa cujas emoções descontroladas interferem em seu comportamento, de qualquer forma e em qualquer grau, segundo ela mesma o reconhece."
"Eu estava extremamente isolado, com um nó na garganta, quando vi uma placa na porta da igreja e entrei", relata Sérgio. O seu discurso justifica uma das idéias de Grover B., o neurótico norte-americano que fundou a irmandade. Segundo ele, ouvindo uma pessoa relatar problemas semelhantes aos seus, o neurótico se sentirá menos neurótico e infeliz.
Qual o problema de Sérgio? "Eu sou a primeira pessoa desquitada da minha família. Hoje eu consigo conviver com isso. Mas não é fácil", diz o neurótico aos cerca de 60 participantes da reunião. "Eu descobri aqui que é possível uma pessoa confessar que tem defeitos. Eu tenho defeitos", conclui. (Mauricio Stycer)

Informações sobre os grupos de N/A podem ser obtidas pelo tel (011) 229-7523.

Texto Anterior: HC atende vítimas da mania de regime
Próximo Texto: 'Recuperação é infinita'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.