São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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'Recuperação é infinita'

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das mais antigas participantes dos Neuróticos Anônimos de São Paulo é Teresa. Tem 73 anos e afirma comparecer há reuniões há 20 anos. "A recuperação é infinita", diz ela. "Quando eu entrei aqui, tomava 15 tranquilizantes por dia. Estava no fundo do poço. Tinha medo de tudo. Hoje levo a mensagem dos Neuróticos Anônimos a todo lugar."
Além das reuniões, Teresa divulga os N/A em locais públicos, como hospitais, delegacias e empresas estatais. Sua próxima meta é a longa fila formada por beneficiários do seguro-desemprego na filial da Caixa Econômica Federal na Penha. "Precisamos ir lá", diz.
Outra neurótica a expor seus problemas é Célia, uma mulher na faixa dos 30 anos. Diz: "Eu sou uma pessoa muito possessiva, invejosa, prepotente. Esses são os que chamo de os meus monstrinhos de caráter. Eles me impedem de ser feliz." Após ouvir o depoimento de Célia, Teresa comenta: "Aquela moça não chegou ao fundo do poço como eu cheguei."
Depois de Célia, fala Pedro, um homem de cerca de 60 anos: "Eu vivia momentos tortuosos na minha vida. Porque é difícil conviver com uma pessoa depressiva. Os terapêutas só dopavam ela. E eu era um egoísta supremo. Sentia ciúmes dessa pessoa." Ao término de seus dez minutos, Pedro revela: "E essa pessoa, que é a minha esposa, está aqui, ao meu lado", diz apontando para a mulher que comanda a reunião dos Neuróticos Anônimos de Santana. (MSy)

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