São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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No vácuo

MARCELO COELHO

SÃO PAULO – Não é que não existam candidatos à Presidência. Há muitos. O quadro sucessório define-se, contudo, pelo vazio mais absoluto. O espaço a ser ocupado é evidentemente o do candidato "anti-Lula".
Qual a força real de um Paulo Maluf, de um ACM, de um Antônio Britto, de um Fernando Henrique?
É muito pequena, a esta altura. Nada se diga sobre Fernando Henrique, objeto de comentário ontem neste espaço.
Mas e Maluf? Não só o flanco aberto com o caso Paubrasil, mas uma administração de pouco impacto local –para não dizer nacional– à frente da Prefeitura de São Paulo diminuem suas chances numa eleição à Presidência. Quanto a Antônio Carlos Magalhães, sua penetração em termos nacionais é ainda menor.
A tendência, aliás, é não se optar por uma polarização direita-esquerda nítida. O "anti-Lula" teria de ampliar, rumo à centro-esquerda, sua base eleitoral; teria de isolar o adversário, não isolar-se a si próprio.
Mas essas coligações com que sonha o senador Pedro Simon tampouco têm algum nome carismático a apresentar.
Talvez o quadro eleitoral se ressinta de um duplo problema.
De um lado, todas as forças que queiram se apresentar como "anti-Lula" têm de aliar-se, ou dependem, de um esquema político comprometido de alto a baixo com tudo aquilo que a sociedade brasileira está rejeitando: relacionamento incestuoso com o poder econômico, neoliberalismo incapaz de responder aos problemas econômicos do país, corrupção generalizada. Obras públicas e laissez-faire, Quércias e Malufs.
De outro lado, a atuação do governo Itamar, como ponto de referência para uma campanha oposicionista, está perdida para os setores mais razoáveis do anti-Lulismo. Tucanos, peemedebistas alternativos, parecem contaminados pela mesma abulia que acomete o presidente. Ou então submergem nas incertezas do plano econômico.
Tudo será feito contra Lula, e as forças em jogo são violentas demais para que se possa prognosticar sua eleição. Mas o candidato encarregado de derrotá-lo ainda não apareceu. Só uma questão de tempo, certamente.

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