São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Vai ser bom, não foi?

RICARDO SEMLER

De um jeito ou de outro, amanhã é dia de festa por ser a coma dos bandidões. Vade retro a fauna variada da história medieval da política brasileira.
Tá certo que fauna nunca acaba, e por isso pintam no cenário os divertidos Enéas da vida. A política, não nos enganemos, precisa de gente assim, do mesmo jeito que as colunas sociais precisam de um Chiquinho Scarpa. Entertainment...
O enterro político de Maluf através de Amin e Barros Munhoz é grande alento, e significa que o eleitor está acordado.
Para o paulistano, que vive hoje o pico de caos, seja de trânsito, saúde ou violência, na cidade mais mal administrada do país, onde tudo se inaugura, como na caatinga, com nomes da progenitora e família, tudo ficou transparente.
Hoje, como sempre, reclama-se que não há em quem votar, mas os de reputação manchada começam a comer a poeira dos que têm um passado inatacável. ACM não consegue eleger em primeiro turno seu sucessor, enquanto Quércia e Maluf pensam em critérios para escolher suas lutas futuras.
Ou seja, terão que escolher bem o prédio onde queiram se candidatar a síndicos, já que não é qualquer edifício que os elegerá.
Impressionou, e desanimou, a maneira coesa e parcial com a qual a mídia escolheu seu candidato. Unanimidade absoluta, apoio ostensivo e nenhuma preocupação com disfarces.
Nunca uma democracia se fechou tão solidamente em torno de uma única candidatura. O uso da máquina governamental foi irrisório comparado com as capas de revistas, jornais e TV.
Foi uma coisa deslavada, de terceiro mundo, de envergonhar. O único consolo é que foi em favor de um candidato probo –mas, e se não fosse, como não foi quando o Roberto Marinho escolheu a dedo o Fernandinho? Lula no artigo espanhol errou por muito pouco. Exemplo: na lista desta semana dos candidatos ideais do PNBE ao Prêmio Cidadania figura nada mais nada menos do que o próprio Emílio Odebrecht...
Esclarece esta eleição, também, a questão do ornamento. Com isto estou me referindo ao termo interiorano (tão valioso) que define se alguém "orna" com alguma coisa. Como em "essa camisa não orna com a calça, sô".
O problema do Lula é que ele não "orna" com a Presidência. Nisto cabe cara, roupa, escolaridade, experiência e jeitão. Seria discriminação, ou povo que quer alguém diferente deles, ou condicionamento imposto pelas elites? Claro, tudo isto. Mas, ainda assim, tem tudo para erguer a cabeça. Pilantras, até mais ver... Parabéns a nós todos. Vota Brasil!

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