São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Êxito do real explica fenômeno FHC

ELEONORA DE LUCENA
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO

O Plano Real está no centro desta supereleição. Lançado há três meses, ele atingiu o bolso dos eleitores e produziu efeitos econômicos e políticos avassaladores. Derrubou a inflação e inverteu completamente a disputa para a Presidência. Conseguiu unir adversários políticos em sua defesa e abafou qualquer oposição.
O início foi meio confuso, com a URV. Os preços dispararam e a troca de moeda foi considerada uma manobra de difícil execução. Até uma geada aconteceu na véspera do plano, acelerando a inflação. Foram momentos de tensão para FHC que, naquela altura, ainda tentava se impor como o melhor candidato anti-Lula.
Quando o real apareceu, as vendas quase pararam. O dinheiro parecia ter encolhido. Logo na primeira semana, começaram as remarcações para baixo. O mercado de câmbio sofreu uma reviravolta inimaginável: a moeda brasileira passou a valer mais do que a norte-americana.
Após 15 dias da implantação do real, ficou visível a queda abrupta da inflação. Os mais pobres, acostumados a pagar o chamado "imposto inflacionário", tiveram a sensação de ganho e foram às compras.
A demanda pelo crediário explodiu –mesmo com as taxas de juros em altos patamares. As vendas em alta provocaram mais encomendas para a indústria, que aumentou sua produção.
Apesar do susto da alta dos aluguéis, o cenário desse primeiro capítulo é de paraíso. A inflação despencou de 50% (junho) para 1% (setembro). E esse dado, por si só, está no centro da explicação do fenômeno FHC.
Em três meses, ele se transformou de "provável candidato anti-Lula" em "virtual presidente eleito". Sem deixar muito espaço político para um "anti-FHC". Candidatos de todos os partidos passaram a acreditar que o apoio ao real é o principal passaporte para buscar a vitória amanhã.
Na véspera da eleição, pode-se dizer que o plano está no seu auge. O timing político das medidas foi perfeito. Contados os votos, é provável que mudanças sejam anunciadas em breve.
É que, nesta mesma semana em que a inflação foi ao chão, já começaram a aparecer sinais mais fortes de que o paraíso ainda não está construído de fato. Os preços da cesta básica voltaram a subir e há cobrança de ágio em certos produtos.
Em resposta, o governo resolveu facilitar as importações para tentar conter os preços. Mas há muitos outras questões pela frente: os bancos estaduais enfrentam problemas de caixa, a meta de emissão de dinheiro está estourando e há greves.
Sem falar nas reformas constitucionais que a equipe econômica considera indispensáveis para a sobrevivência do real: mudanças no sistema tributário, na previdência, na privatização –tudo por fazer.
Além de tudo isso, permanece encoberta a questão do custo social do plano. O que acontecerá com emprego e salário depois das eleições? Experiências em outros países não permitem a visualização de cenários muito otimistas.
São temas que ficaram de fora da campanha eleitoral. Por enquanto, só se fala em crescimento econômico. É o que todos querem.

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