São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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FHC nega culpa em modelo de cédula

LÚCIO VAZ
EM SÃO PAULO

O candidato do PSDB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, disse ontem que não tem responsabilidade sobre a distribuição de cédulas falsas com o nome do candidato do PT fora do local indicado no modelo oficial.
"Não fomos nós. Não foi ordem minha nem da coligação central. Ou é armação ou é erro. Se foi erro, tem que ser punido", afirmou o tucano em São Paulo.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pediu a apreensão de cédulas que ensinavam o eleitor a votar em FHC, mas adulteravam a ordem de colocação do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
O nome de Lula na cédula falsa era o terceiro de cima para baixo, quando o correto é na quarta posição. Para o presidente do TSE, Sepúlveda Pertence, a adulteração foi um "jogo baixo".
Dinheiro externo
FHC disse não acreditar que o PT esteja buscando informações sobre uso de dinheiro do exterior na campanha de sua coligação. "Não acredito que eles pensem nestas coisas".
Segundo ele, os petistas "estão cutucando onça com vara curta". Em seguida, completou: "Não foram eles mesmos que foram acusados de usar dinheiro de sindicatos estrangeiros e de igrejas estrangeiras?"
O candidato tucano disse que essa tática foi usada pelos adversários do PT, que, segundo ele, "jogam sujo". FHC afirmou que "nunca" entrou neste jogo e que só "o desespero" pode levar "a tal ponto".
FHC procurou minimizar o fato de ter na sua coligação políticos que apoiaram o movimento militar. No comício em Santos, anteontem, ele afirmou ter sido perseguido pelos militares.
"E quantos que estão apoiando o PT que também estavam (apoiando os militares)?" Ele não quis citar nomes, disse apenas que "tem um professor eminente que apóia o PT e que pediu a minha cassação."
O candidato também disse que muitos políticos que hoje o apóiam eram crianças na época do movimento militar. "Passaram-se mais de 30 anos. Imaginem se eu vou ficar julgando por 30 anos. O Brasil se transformou, as pessoas se transformaram, muitos dos que vocês dizem que teriam apoiado o golpe eram crianças em 64."
Neste ponto, FHC fez uma referência à imprensa. "Não quero fazer provocação, mas, em casa de enforcado, melhor não falar de corda. Se eu for pegar o que os jornais fizeram naquela época, meu Deus." Novamente, ele não quis citar nomes. "Vocês sabem", respondeu aos jornalistas.
O tucano falou na porta de sua residência em São Paulo ontem de manhã, antes de sair para uma sessão de acupuntura na Vila Mariana. Ele disse que faz sessões periódicas para tratar a coluna. À tarde, estava prevista uma viagem do candidato ao Rio de Janeiro.
Perguntado se via algum ponto de semelhança entre o PSDB e o PT, afirmou "os partidos brasileiros todos têm ponto em comum. Que não é contra a miséria? O combate à fome? Quem não percebe que tem que haver mudanças estruturais? Há tantos problemas sérios, que qualquer político que tem a mínima visão das coisas tem pontos de coincidências nesses assuntos"
FHC disse que não iria mais dar entrevistas devido à orientação do procurador-geral da República, Aristides Junqueira. "Ele disse que eu estou proibido de falar." O tucano cancelou uma entrevista que daria ontem à noite ao jornalista Boris Casoy, do SBT.

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