São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Falsas profecias

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No esforço para preparar, em parceria com Gilberto Dimenstein, um livro sobre os subterrâneos da eleição, mantivemos contato com alguns dos mais destacados personagens da política nacional.
As conversas, realizadas ao longo de um ano, tinham duplo objetivo: ao mesmo tempo em que buscávamos informações, tentávamos extrair dos interlocutores prognósticos eleitorais que nos auxiliassem a direcionar a linha de investigação do livro.
A julgar pelas perspectivas criadas a partir dos números das últimas pesquisas de opinião, produziram-se os mais disparatados absurdos.
Comece-se por Fernando Collor: "O povo e Fernando Henrique não se entendem, não falam a mesma língua. Ele não tem a menor chance", disse o ex-presidente, em 16 de junho de 1994.
Collor analisou o Plano Real: "O plano será o epitáfio da candidatura de Fernando Henrique. Já não deu certo."
Outras duas previsões de Collor: a) "O Quércia é muito forte. Não deve ser subestimado"; b) "A eleição será um programa impróprio para menores de 21 anos", disse, sobre a possibilidade de derramamento de lama na campanha.
Só há dois meses, em agosto, Collor ajustou suas opiniões à realidade. "Três fatores podem levar alguém a vencer uma eleição: arte, ciência e o imponderável. No caso desta eleição, quem está decidindo a parada é o imponderável, o real."
Em 25 de janeiro de 1994, José Sarney vaticinou: "O Brasil tem um encontro marcado com a fatalidade". Ele previa a vitória de Lula.
Sarney dizia que, como não detinha o controle sobre o PT, Lula, já na condição de presidente, seria engolfado pela crise: "Caminhamos para uma inevitável confrontação civil".
Mesmo os expoentes do PFL, que acabaram se aliando a Fernando Henrique, duvidaram de suas chances. "Hoje, o melhor nome do PSDB é, sem sombra de dúvidas, o Mário Covas", disse Jorge Bornhausen, em 25 de janeiro de 1994.
Bornhausen analisava as possibilidades de vários nomes. Achava que o deputado Nelson Jobim, relator do Congresso revisor, pudesse despontar.
Antônio Carlos Magalhães não acreditava em Lula. Mas também duvidava de Fernando Henrique. "O plano dele está desabando. No PSDB eu prefiro aqueles meninos do Ceará", disse, em 26 de janeiro de 1994, referindo-se a Ciro Gomes e Tasso Jereissati.

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