São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Lula muda de endereço à procura de empregos

LUÍS EDUARDO LEAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A São Paulo de Lula era a de todo imigrante nordestino pobre que chegava à cidade nos anos 50 –vários dias no pau-de-arara até alcançar a estação ferroviária do Brás, na região central, em 1952.
O percurso natural seria seguir do largo da Concórdia, onde fica a estação, para o Ipiranga, Vila Carioca ou algum outro bairro operário entre as zonas leste e sul.
A fixação da família na fabril Vila Carioca só ocorreu em 1955, três anos após sua chegada a São Paulo. Os Silva moraram antes no Guarujá (Baixada Santista).
Eurídice e os oito filhos seguiram depois para uma casa de dois cômodos nos fundos de um botequim na rua Albino de Moraes, Vila Carioca (zona sul de São Paulo).
Moravam no quarto-e-cozinha Lula, a mãe, os sete irmãos e três primos. O banheiro ficava do lado de fora e era usado também pelos fregueses do botequim.
A Vila Carioca era naquele tempo um bairro operário pobre, com ruas sem calçamento –lamacentas demais após as chuvas e muito poeirentas nos dias de sol forte.
"Ficava um brejo cheio de sapos quando chovia", lembra o serralheiro Sebastião Zanone, 52, que ainda hoje mora na mesma casa da rua Frei Pedro Sousa, a 20 metros da primeira casa de Lula em São Paulo –hoje fábrica de velas.
A diversão dos meninos da Vila Carioca era jogar futebol nos campos de várzea da região. "Só sobrou um", diz Zanone. Segundo ele, Lula não era "muito bom de bola" e ficava "bravo" quando era obrigado a jogar no gol.
O pequeno comércio da região permitiu a Lula começar a trabalhar, aos 12 anos, em uma tinturaria na mesma rua em que passou a morar, a Auriverde, na Vila Carioca, bairro em que continuaria a morar nos dez anos seguintes.
Predominam hoje no bairro os galpões e as metalúrgicas. "Isso aqui só tinha carroça e agora só se vê caminhão grande por todo lado", diz a aposentada Esperança Lopes, 78, que conheceu a família Silva no tempo em que morava na Vila Carioca.
A guinada profissional acontece em 1960 quando Lula passa a trabalhar na Fábrica de Parafusos Marte, na rua Antonio Frederico, 360, Vila Carioca –hoje uma oficina de pintura de caminhões.
Frequentava o curso de aprendiz de torneiro mecânico do Senai, no Ipiranga (zona sul).
"O torno em que ele trabalhava continua a ser usado", diz Olegário Soares da Silva, 56, que foi "encarregado" do "aprendiz" Lula na fábrica de parafusos.
A fábrica continua a existir, em novo endereço. Em 1963, Lula, formado, muda de emprego.
No mesmo ano, começa uma série de mudanças de endereço causadas pelo aumento dos aluguéis e pelo frequente desemprego dos integrantes da família.
Nos anos 60, moram em média um ano em cada casa em bairros operários como Vila Arapoá, Jardim Patente e Vila Lizier.
Nos anos 70, viúvo –a primeira mulher morrera durante o parto– passa a morar em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), de onde não saiu mais.
Casa-se em 1974 com Marisa Letícia, com quem tem quatro filhos. Os dois tinham se conhecido sete meses antes na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
Desde 88, Lula mora em uma casa de dois andares na rua São João, no centro de São Bernardo.
O quarteirão do candidato à presidência é uma combinação de casas classe média com outras bem modestas e um pequeno comércio (aviário, açougue, armarinho etc.).
Muitas casas, mesmo as mais caras, têm placas em que são oferecidos serviços de cabeleireiro, doces para festas e roupas sob encomenda. "É para complementar a renda", diz Lucia Feitosa, 34, do salão Lucia, na rua São João, quase em frente à casa de Lula.

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