São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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São Paulo de FHC vira sequência de fotos velhas

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Seguir os passos de Fernando Henrique por São Paulo, desde o momento em que a família Cardoso chegou do Rio pela primeira vez, em 1940, é procurar por várias cidades que não existem mais.
A São Paulo que o adolescente conheceu nos anos 40, ao redor de Perdizes e Barra Funda, ficou irreconhecível depois da construção do Minhocão, 30 anos depois.
A São Paulo dos anos 50, vivida pelo estudante de sociologia Fernando Henrique na famosa rua Maria Antônia, na região central, está totalmente deteriorada.
A São Paulo tranquila que abrigou o professor de ciências sociais nos primeiros anos da década de 60, no Brooklin, na zona sul da cidade, se transformou num celeiro de prédios enormes.
A São Paulo que o professor aposentado pelo AI-5 reencontrou ao voltar do exílio, em 1968, é outra fotografia velha: FHC morou em uma das primeiras casas de uma rua chamada D, no não muito conhecido bairro do Morumbi.
A São Paulo elegante e arborizada que o senador da oposição descobriu nos anos 70, em Higienópolis, hoje enfrenta o pesadelo de um possível shopping center em sua rua principal.
Como tantos outros moradores de classe média alta em São Paulo, nos últimos 50 anos FHC migrou de bairro em bairro, em busca de locais menos afetados pelos problemas mais graves da cidade.
A família Cardoso entrou em São Paulo por Perdizes, um dos bairros mais agradáveis da época. Foi morar numa casa na rua Santa Adelaide, então sem calçamento, estudava no Colégio Perdizes e ia à missa na Igreja de São Geraldo, no largo do Padre Péricles.
Só a igreja, em obras, ainda existe. A rua Santa Adelaide, invadida por linhas de ônibus, perdeu até o nome: chama-se agora Lincoln Albuquerque (veja abaixo).
FHC passou a maior parte da infância e da adolescência, nos anos 40, ao redor de uma avenida badalada e bem frequentada, a General Olímpio da Silveira, na Barra Funda (região central).
A família morava no segundo andar de um prédio de três andares na avenida, bem na esquina da rua Olimpia de Almeida Prado. O predinho ainda está lá, embora quase coberto pelo monstrengo arquitetônico conhecido como Minhocão.
Diariamente, para ir à escola, o filho do general Leônidas Cardoso atravessava a Olímpio da Silveira e dava na rua Gabriel dos Santos (continuação da Olimpia de Almeida Prado), já no bairro de Higienópolis.
No Colégio São Paulo, o garoto era chamado, com alguma formalidade, pelos seus dois primeiros nomes, Fernando Henrique. Não tinha apelido.
O prédio do colégio sobreviveu, embora com a fachada alterada pelo Colégio Hexágono, às mudanças drásticas sofridas pelo bairro.
O cine Santa Cecília e a galeria de arte, de Barros, o Mulato, que FHC frequentava no final dos anos 40 já não existem há 20 anos.
O cine Santa Cecília se transformou em uma revendedora de automóveis após exibir, em 1961, "Babette Vai À Guerra", com Brigitte Bardot.
Em suas andanças por São Paulo, Fernando Henrique quase sempre se antecipou às alterações urbanas experimentadas pelos locais que morou. Em uma ocasião, a mudança ocorreu por razões alheias à sua vontade.
A casa no Brooklin foi abandonada, em 1964, por causa do movimento militar que derrubou João Goulart e levou FHC ao exílio.
FHC não viu, assim, a gradual transformação de uma rua (e de um bairro) de casas e sobrados em um celeiro de prédios.
Em uma segunda ocasião, FHC se mudou quando a violência urbana bateu em sua porta: a casa em que morou no Morumbi, entre 1968 e 1972, foi deixada depois de sofrer dois assaltos.

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