São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994 |
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Na corrida
MOACYR SCLIAR – Esta história do rapaz que se apaixonou pela moça ao vê-la correr a maratona é muito romântica –disse ela–. Mas infelizmente não é a regra.– Como é que você sabe? – perguntei. – Por experiência própria– suspirou ela. Por uma dura experiência própria. Você quer ouvir a história? – Claro que quero. – Tudo começou quando resolvi correr a maratona. E o motivo foi o mesmo dessa moça: eu estava gordinha, precisava perder uns quilos, e tinha ouvido dizer que correr é ótimo para baixar o peso. E aí comecei a treinar. Todos os dias calçava os tênis e saía para uma corrida. Eu não era a única: você sabe que há muita gente correndo no parque. Mas um rapaz me chamava a atenção, um rapaz bonito, atlético. Um dia, eu correndo, ele emparelhou comigo e começamos a conversar. Você sabe, bom corredor é aquele que consegue falar enquanto corre, de modo que aquilo até me agradou. Além disto, descobrimos que tínhamos gostos comuns, opiniões comuns, de modo que resolvemos correr sempre juntos. – E aí se apaixonaram. – Claro: com tantas afinidades, só podíamos nos apaixonar. E então ele me pediu em casamento. – Correndo? – Sempre. E me disse que tinha uma grande idéia para a cerimônia: um casamento correndo. Ele conhecia um padre que corria, testemunhas que corriam. A família dele inteira corria. Muito fácil. – E você concordou. – É. Mas o casamento não saiu. E sabe por quê? – Não. – Porque –ela agora estava indignada– ele queria a noite de núpcias correndo. Já imaginou? A nossa primeira noite, nós correndo! Fazendo amor na corrida! Rompi com ele imediatamente. – E agora você está solteira... – De maneira nenhuma. Tenho um namorado. Ele pratica ioga. Passa o dia inteiro quietinho, quietinho. Texto Anterior: Lote para teste já foi todo vendido Próximo Texto: Bahia faz 'liquidação' de animais em extinção Índice |
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