São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Técnica vitoriosa

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
EDITOR DE ECONOMIA

O novo governo assume em 95 ou após o resultado das urnas? Para a política econômica, feita sob medida para um candidato, a resposta é óbvia. A equipe que entrou no governo com um ministro da Fazenda sob risco, como qualquer outro no governo Itamar, é a mesma que conduziu a vitória de FHC e que dirigirá a transição.
Por isso mesmo, ela ganha um grau de liberdade inimaginável em qualquer mudança de governo recente –as trocas nunca obedeceram a um cálculo programado, mesmo na sucessão sombria das casernas durante os estertores do período militar. O que os economistas no poder farão a partir de agora pode ser muito diferente do que fizeram até agora.
A ausência de constrangimentos é típica da arte, substantivo que alguns analistas vinculados a FHC usaram para diferenciar da "técnica econômica" a sensibilidade da equipe para resolver dilemas do plano, como na política cambial.
A pura arbitrariedade caracteriza a arte e é seu atributo quase específico. Não chega a ser uma virtude em política econômica –pelo passado recente, é um vício. Está mais para a simples arbitrariedade o que a equipe de FHC produziu.
Os economistas gostam de teorias, os políticos, de resultados. A simbiose, típica em países desenvolvidos, deu certo sob a batuta de FHC. Conseguido o objetivo de ganhar a eleição, o jogo deve mudar.
Saber até que ponto o real pode ser valorizado sem prejudicar a indústria que exporta não está nos livros, é uma arte.
Mas a "banda" de 15% no câmbio é um virtuosismo ou foi tocada para obedecer ao cálculo político de que quanto maior o tiro na inflação, via câmbio, menor a chance de o plano naufragar à boca das urnas?
Libertar o mercado da ação do Banco Central quanto se tem uma enxurrada de dólares entrando no país é um lance de ousadia política –pode até ser genial– mas não tem nada a ver com sensibilidades refinadas. Da mesma forma, era impossível "sacar"o grau de "remonetização" da economia sob inflação baixa –sem saber técnico confiável a respeito. A equipe jogou no conservadorismo também para não atrapalhar as chances de FHC.
No "timing" político e econômico, os artistas do governo fizeram um "happening" memorável. Agora que os defeitos do plano começam a aparecer, podem se dedicar mais à técnica ensinada nos livros. Ganhando FHC, a história é outra.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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