São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Maurício já planeja despedida da seleção

SÉRGIO KRASELIS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

O levantador Maurício, 26, se considera uma pessoa com os pés no chão. Apesar da timidez indisfarçável, o jogador, considerado o melhor de sua posição na atualidade, diz que adora fazer o que sabe: jogar pela seleção.
Mas admite que pretende disputar só mais uma Olimpíada e depois atuar apenas em clubes.
Campeão olímpico em Barcelona em 1992, disputou a temporada do ano passado na Itália. Este ano, foi trazido de volta ao Brasil.
Atua na equipe do Telesp/Olimpikus ao lado do atacante Marcelo Negrão, graças ao programa desenvolvido pela Confederação Brasileira de Vôlei para que os campeões olímpicos voltassem a atuar no país.
Segundo Maurício, viver o momento presente é o mais importante. "Não vivo em função do passado", afirma o levantador. "Gosto de viver sempre pensando em mais conquistas. Mas sou realista", pondera.
Espírita, Maurício diz já ter assimilado a morte do pai, falecido um dia antes do embarque da delegação para a Europa.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha no hotel em que a seleção está concentrada em Atenas, local onde disputa o Mundial, um título inédito para o Brasil.

Folha - Você é considerado o cérebro do time brasileiro. Isso lhe dá muita responsabilidade?
Maurício - Sou um cara com os pés no chão. Adoro fazer o que faço, mas atuo pela equipe. Gosto de batalhar por mais uma conquista, como o Mundial.
Mas, para isso, é preciso jogar em conjunto e, quando jogo, só penso na quadra.
Em frações de segundos você tem que estar com um olho no peixe e outro no gato. Ou seja, ter uma visão periférica da partida.
Essa é a função do levantador. Grito muito comigo na quadra, porque tudo passa pelas minhas mãos.
Folha - Já passou pela sua cabeça parar de jogar?
Maurício - Meu objetivo é jogar pela seleção brasileira até a Olimpíada de Atlanta. Mais do que isso, não. Agora, por um clube, é outra história.
Folha - Como o Pelé no futebol, você quer deixar o vôlei por cima?
Maurício - Não é essa a questão, sair por cima ou por baixo. Mas não sei se vou viver para a seleção daqui a alguns anos do mesmo jeito que estou vivendo agora. Não quero agir com tanta ansiedade.
Folha - Você se considera uma passoa ansiosa?
Maurício - Já fui muito mais nervoso e ansioso. Mas hoje mudei muito. Sou bem mais tranquilo. Só não gosto de ter intimidade com quem não conheço. Aí fico retraído.
Folha - Viver tanto tempo em função da seleção não exige muito sacrifício?
Maurício - Sacrifica meu plano pessoal, mas já estou acostumado com isso. Como já disse antes, no dia em que não tiver mais vontade de jogar pela seleção, pode ter certeza que estarei fora.
Folha - Qual foi o treinador que lhe deu a maior bronca?
Maurício - O Zé (José Roberto Guimarães). Estávamos treinando para a Olímpiada de Barcelona e eu fiquei muito chatedo por não poder ir jogar na Itália. Enfim, o treino estava uma bosta.
E ele disse que eu era o grande culpado pelo fato de o time estar ruim. Fiquei três dias de baixo astral, mas depois assimilei as críticas.
Folha - Sua mãe está em Atenas acompanhando o Mundial e seus irmãos devem chegar em breve. A ligação com a família foi sempre assim tão forte?
Maurício - Sempre.
Folha - Você pensa em se casar, ter a sua própria família?
Maurício - É claro que sim. Mas ninguém manda no coração de ninguém. Quando pintar uma pessoa, pensarei mais no assunto. Mas isso ainda não aconteceu.
Folha - Poucas pessoas sabem, mas você participa de um projeto voltado para crianças de rua em Campinas, sua cidade natal. Como é esse trabalho?
Maurício - É uma creche que abriga 60 crianças. Ajudei a construir a parte estrutural. E também participo, com minha família e outras pessoas, de um rodízio semanal, responsável por alimentar essas crianças, todas elas, menores abandonados.
Folha - Seu pai morreu recentemente. Já se conformou?
Maurício - Sou espírita e acho que meu pai fez apenas uma passagem desta para outra vida. Só posso dar os parabéns a ele por estar ao lado de Deus.

Texto Anterior: A DIETA IDEAL*
Próximo Texto: Fiorentina pega Lazio em partida de tradição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.