São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Astronomia terrestre vive renascimento

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A recuperação funcional do telescópio Hubble anunciada a 18 de dezembro último com a apresentação de fotografias perfeitas da galáxia M100 situada a 50 milhões de anos-luz da Terra, inaugurou a era da telescopia espacial, isto é, realizada mediante instrumentos instalados em pleno espaço. Como se sabe, o Hubble, logo depois de colocado no espaço, revelou vários defeitos.
A missão de salvamento foi sem dúvida a mais difícil da Nasa após a que colocou o homem na Lua. A tripulação, que partiu na astronave Endeavour, teve uma semana de perigosas e delicadas manobras que abrangeram mais de 480 quilômetros em pleno espaço, em pelo menos seis "passeios" para recuperar todos os defeitos, ao todo 11 reparos, todos de extrema dificuldade e precisão.
Tudo isso sem falar das grandes manobras da Endeavour para chegar a 10 metros do telescópio avariado, depois de vencer a distância de 10.780 km que separava inicialmente a astronave do telescópio.
Os consertos foram executados cronometricamente. Com o êxito da missão, a Nasa não apenas prestou grande serviço à ciência, mas também contribuiu para resgatar um pouco de seu prestígio, muito desgastado nos últimos tempos, até por escândalos administrativos.
Agora o Hubble está apto para ajudar na solução de grandes problemas, como a precisa idade do universo, a existência de gigantescos buracos negros no âmago das galáxias, a confirmação da existência de planetas girando em torno de objetos fora do sistema solar, a formação das galáxias etc.
Com a implantação da astronomia espacial coincide o renascimento da tecnologia da construção de grandes telescópios terrestres. Em 1934 o mundo científico vibrou com a inauguração do telescópio do Monte Palomar e a produção de seu enorme espelho de cinco metros de diâmetro. Depois tudo se acomodou, como se a ciência da produção de telescópios se houvesse exaurido.
Dois pioneiros, Jerry Nelson, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e Roger Angel, de Tucson, Arizona, sonharam alto há mais de uma década, independentemente um do outro: construir aparelhos muito mais potentes que os atuais e renovar a tecnologia da fabricação dos espelhos.
Nelson, após vários anos para convencer universidade e patrocinadores, propôs a fixação nas alturas de Mauna Kea, no Havaí, de um telescópio cujo espelho teria dez metros de diâmetro e não fosse inteiriço, mas formado de 36 hexágonos de vidro justapostos e alinhados eletronicamente.
Keck foi o nome escolhido para o gigante. Angel, após enfrentar dificuldades administrativas semelhantes, resolveu erigir o seu telescópio no Monte Hopkins, Arizona, com espelho inteiriço de vidro fino reforçado no verso por um favo do mesmo vidro, tudo fundido numa forma especial e por processo original. O espelho é de 6,5 m.
O maior problema na construção de telescópios é talvez a escolha do vidro, se fino ou se grosso. Ambos têm seus prós e contras, mas o fino prevaleceu nesses e noutros instrumento em construção (ao todo mais de meia dúzia).
O vidro fino é sujeito a várias deformações produzidas pelo calor, pelos ventos e pela gravidade, mas para compensá-las os especialistas imaginaram sistemas mecânicos, eletrônicos e computadorizados. Esses telescópios terrestres terão no Hubble precioso colaborador, pois enquanto eles captarão muito maior número de fótons, o Hubble deverá propiciar visão de objetos extremamente pálidos, que as oscilações atmosféricas jamais permitiriam ao Keck, por exemplo, discernir.

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