São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
Texto Anterior | Índice

As coordenadas do invisível

MANUEL DA COSTA PINTO
DA REDAÇÃO

A intensificação das revoluções científicas significou, para a cartografia do século 20, a conquista do invisível.
Sondas e satélites mapearam o fundo dos oceanos, as falhas geológicas e o desenho exato dos continentes, num aparente avanço rumo à objetividade absoluta.
Entretanto, diz Whitfield, as técnicas científicas, paradoxalmente, "dissolveram o ideal da objetividade em sua diversidade conceitual".
Segundo ele, as imagens captadas pelos instrumentos de medição são cifradas num código incompreensível –como por exemplo as imagens da Terra vistas do espaço, em que se sobrepõem massas de ar e o recorte dos continentes.
Assim, estes mosaicos de imagens devem ser manipulados, de forma a obter um diagrama que restabeleça a continuidade "natural" dos elementos geográficos.
Ironicamente, o modelo desse diagrama são exatamente os antigos mapas. Percebe-se então como as cartas geográficas foram lentamente estabelecendo uma linguagem que torna familiar a morfologia terrestre e que se choca com sua imagem instantânea.
Com isso, Whitfield afirma que, mesmo o acesso direto à realidade, através de artefatos científicos, produz linguagem –nesse caso, o código da objetividade e das realidades invisíveis.
(MCP)

Texto Anterior: A cartografia a serviço da arte
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.