São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
PC chinês usa até Confúcio para se manter no poder
JAIME SPITZCOVSKY
Entre os dias 25 e 28, o Comitê Central do PC se reuniu para continuar a "discussão ideológica". Lançou um documento que evidencia preocupações: manter poder centralizado e garantir uma sucessão tranquila para Deng Xiaoping. Deng, 90, não tem mais nenhum cargo oficial. Mas conta com a autoridade moral e o prestígio de ser o dirigente que deslanchou, em 78, as reformas que instalaram a economia de mercado. O PC chinês busca novos alicerces ideológicos que sustentem a opção do "camarada Deng e a segunda geração de dirigentes", conforme comunicado da reunião. Há 45 anos a primeira geração de revolucionários, Mao Tse-tung à frente, criava a China comunista. O texto do Comitê Central aponta Jiang Zemin, presidente do país e secretário-geral do PC, como líder da "terceira geração". Os dirigentes comunistas temem que a mudança econômica e a abertura a influências ocidentais provoquem manifestações pró-democracia, como as de 1989, reprimidas violentamente. "É necessário continuar colocando a construção ideológica do partido como prioridade", conclama o Comitê Central. Em Hong Kong, no jornal "South China Morning Post", o analista Willy Lam citou Jiang Zemin: "Em nenhuma circunstância, vamos sacrificar valores espirituais de nossa civilização em troca de desenvolvimento econômico". Jiang Zemin busca refúgio nas idéias de Confúcio, filósofo que viveu de 551 a 479 a.C. Em versão simplificada, o confucionismo prega total lealdade ao imperador, hoje comparado ao líder comunista. Nos tempos do maoísmo, Confúcio aparecia como um dos carrascos da China imperial. Em 1974, a mulher de Mao, Jiang Qing, promoveu "cruzada especial" contra o filósofo. "Reunião aplaina caminho para a era Jiang", manchetou o "Hangkong Standard". Segundo o jornal, Jiang reforçou poder na semana passada ao promover a ascensão de três aliados na estrutura do PC. Jiang Zemin equilibra-se entre os esquerdistas, que resistem ao capitalismo, e os direitistas, ávidos por acelerar as reformas. Para preservar o apoio das Forças Armadas e mascarar o aprofundamento das diferenças sociais, os líderes apostam no nacionalismo. O PC também busca recuperar prestígio. A luta contra a corrupção se torna uma das prioridades. O oficial "China Daily" informou que se investigaram, entre janeiro e julho deste ano, 23.618 casos de corrupção. A reportagem não informa os resultados. Texto Anterior: Integração da Europa oriental pode demorar Próximo Texto: Líderes regionais são presos Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |