São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Bons votos

Amanhã votam quase 100 milhões de brasileiros. Milhares de candidatos submetem-se à prova de fogo da avaliação popular. Terminadas as campanhas, esgotadas as possibilidades de debate e persuasão, cada eleitor poderá travar, em meio à enorme quantidade de opções, propostas, siglas e promessas, um diálogo profundo e solitário com seu país e seu Estado.
Talvez o eleitor possa inspirar-se, nesse diálogo instantâneo e fundamental, na própria campanha. Ao contrário de 1989, quando a polarização e o radicalismo, os incidentes e as paixões predominaram, em 1994 chega-se às urnas com menos turbulência. O impeachment de Collor, a caça aos anões do Orçamento, o plebiscito parlamentarismo X presidencialismo, as mobilizações contra a fome e o esforço pela revisão constitucional foram episódios políticos que, independentemente do maior ou menor sucesso de cada um, colocaram a sociedade num diálogo intenso consigo mesma.
Também ressalta em 1994 o número bem menor de candidatos presidenciais em comparação a 1989, quando mais de 20 disputaram a preferência do eleitorado. Esse afunilamento pode ser visto igualmente como expressão de mudanças na legislação eleitoral, algum amadurecimento e, quem sabe, esclarecimento.
Muitos, entretanto, olharão para a cédula entre perplexos e indignados. O debate eleitoral foi restrito, as alianças partidárias foram compostas e decompostas nos vários níveis e regiões. O conhecimento de propostas e mesmo de nomes de candidatos a deputado federal e estadual é para muitos quase nulo.
Ainda vigora portanto um estado de infidelidade partidária e de superficialidade no debate dos temas políticos que diminui muito o alcance do eventual amadurecimento democrático dos últimos anos. O eleitor certamente sonha com um país melhor, mas o caráter invertebrado da representação política muitas vezes acaba transformando esse sonho em pesadelo.
De qualquer forma, é preciso ter presente que tudo o que há de ruim poderá ser purgado apenas por meio das urnas.

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