São Paulo, segunda-feira, 3 de outubro de 1994
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Padre reduz custos em 85%

MARIO CESAR CARVALHO
DO ENVIADO ESPECIAL

O próximo governo poderia adotar a escola Padre Simões de restauração. Funciona assim: padre Simões treina marceneiros, carpinteiros e pintores de Ouro Preto para lidar com igrejas barrocas, toca as obras em mutirão e consegue reduzir o custo em até sete vezes.
Não há milagre. Padre José Feliciano da Costa Simões, 62, pároco de Ouro Preto, consegue cortar custos porque envolve os comerciantes da cidade em seus projetos.
Consegue cimento de graça de um, madeira de outro e pedra de um terceiro. Parece mambembe, mas a Fundação de Arte Sacra que padre Simões dirige tem 61 funcionários e já restaurou dez igrejas.
``Com o dinheiro que o governo gasta com a planta de uma obra, nós recuperamos uma igreja", diz.
Ele tem dois exemplos na ponta da língua. A igreja São Francisco de Paula, construída entre 1804 e 1808, estava fechada há 14 anos.
O governo orçou as obras em R$ 150 mil e pediu um ano para fazer o trabalho. O padre gastou R$ 30 mil e fez em seis meses.
Na igreja do Rosário a diferença de custos é de 85%, segundo padre Simões. A obra havia sido orçada em R$ 210 mil, mas a fundação estima gastar R$ 30 mil.
Na obra do Rosário, o padre conseguiu envolver o governo pela primeira vez. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional vai dar os R$ 30 mil.
Padre Simões diz que o maior dividendo do seu trabalho não é econômico –é cultural. ``Quando a comunidade toma gosto pela história é mais fácil conservar."
Professor de arte sacra do seminário de Mariana durante 25 anos, padre Simões diz que conseguiu resgatar ofícios que estavam se perdendo na cidade.
``Sempre tem um velho carpinteiro que sabe consertar o telhado de uma igreja barroca, e, quando ele faz isso, um carpinteiro mais novo acaba aprendendo."
Sua próxima empreitada é a igreja das Mercês de Cima. Onde havia rostos de anjos, pintados no século 18, há tábuas podres.

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