São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Pressão de custos preocupa empresários

DA REPORTAGEM LOCAL

A grande preocupação dos empresários neste último trimestre é com os aumentos de custos, provocados tanto pelos preços das matérias-primas quanto pelas reivindicações salariais.
Pressões já foram detectadas nos setores de embalagem, cimento, produtos químicos, plástico, carne bovina, industrializados de carne e commodities agrícolas.
Há indícios de que vários setores diminuíram a oferta de seus produtos na última semana de setembro, como fase de ``pré-aquecimento", para impor reajustes depois de conhecido o resultado da eleição presidencial.
No caso das matérias-primas, algumas indústrias registram aumentos de preços de até 20% desde a entrada do real. Empresários também não descartam a possibilidade de uma inflação provocada pelo aumento do consumo.
Antônio Ermírio de Moraes, acionista do grupo Votorantim, acha que `isso é sinal de péssimo patriotismo".
Para ele, o governo tem que ``abrir drasticamente o mercado de quem especular, ou criar mecanismos de defesa contra setores que dominam o mercado externo e o interno para um mesmo produto".
Ermírio de Moraes exclui o cimento –mercado dominado pela Votorantim– do exemplo de ``péssimo patriotismo". Ele lembra que as alíquotas para a importação do produto estão zeradas. ``Qualquer um que se sentir prejudicado poder trazer de fora".
Gilberto Galan, vice-presidente da Kodak Brasileira, diz que há fortes pressões para aumentos na celulose, no papel e no papelão. ``Está cada vez mais difícil negociar com os fornecedores", diz.
A rede de supermercados Paes Mendonça também detectou pressões nos produtos embalados em papel e plástico. Nelson Veiga, diretor da rede, acha que as pressões de custos devem continuar existindo porque não houve aumento da capacidade produtiva das fábricas depois do Plano Real.
José João Locoselli, presidente da Abipla –que reúne as indústrias de higiene e limpeza–, diz que o polietileno, matéria-prima usada pelo setor, subiu 10% desde a entrada do real.
Se a alta persistir, os fabricantes vão repassar este aumento para o preço dos produtos, diz Locoselli.
O presidente da Electrolux, Folke Asell, conta que os fornecedores de alumínio também estão tentando aumentar preços. Ele confirma o foco de alta nas embalagens.
``O maior consumo abre espaço para a subida de preços. Há risco de inflação de demanda", afirma Asell.
Gilberto Serrani, vice-presidente da Continental 2001, fabricante de eletrodomésticos, está preocupado com o dissídio dos metalúrgicos, em novembro.
``Se as reivindicações dos empregados forem maiores do que os ganhos de produtividade, será difícil manter preços", prevê Serrani.
Por conta dessas pressões, a inflação pode subir e se aproximar de 3%, refletindo, para alguns empresários, as incertezas quanto ao resultado das eleições.
``Se Fernando Henrique Cardoso ganhar no primeiro turno, a inflação de outubro deve oscilar entre 1,5% e 2%. Se não, salta para 3%", avalia Bruno Caltabiano, presidente da Abradif (Associação Brasileira dos Distribuidores Ford).
Já para Galan, da Kodak, a vitória de FHC pode aumentar o consumo e dar margem a aumentos de preços, alimentando a inflação.
Na opinião de Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, a inflação de outubro independe do resultado das eleições.
O empresário Luis Eulálio Bueno de Vidigal, presidente da Cobrasma, acha que a inflação poderá crescer como fase de adaptação e acomodação de preços, logo após a definição do quadro eleitoral. Mas descarta qualquer tipo de explosão de preços.
Passados os primeiros três meses do real, os empresários ouvidos pela Folha gostam do plano, mas não dão nota dez. Para eles, a total aprovação só virá com as reformas estruturais.
Para Mário Amato, ex-presidente da Fiesp, este é o momento de apressar as reformas tributária e fiscal, ``como complemento indispensável ao sucesso do plano".

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