São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994 |
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Ciro diz que aumento de preço é 'canalhice'
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O crédito correto desta foto é Ana Aragão/"O Povo" e não Ana Aragão/FolhaImagem. O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, disse ontem em Fortaleza que um eventual aumento generalizado de preços após as eleições será uma ``canalhice", que indicaria o ``nível de podridão de certas frações da elite brasileira". Em entrevistas no aeroporto de Fortaleza (Ceará) e no Colégio Santo Inácio, onde votou às 12h30, o ministro assegurou que não haverá ``Plano Real 2, pois o brasileiro merece respeito". Ele prometeu que o governo agirá ``muito duramente" contra aumentos especulativos. Ciro Gomes disse ainda que não haverá medidas de contenção do consumo, que está aquecido. Ao contrário, observou, o governo vai agir na outra ponta, buscando alternativas que aumentem a oferta de produtos que estejam com ágio, preço muito elevado ou com escassez. A principal medida nestes casos será reduzir o imposto de importação e facilitar mais a compra de produtos no exterior, eliminando-se as barreiras não tarifárias. Sem pressão de custos O ministro da Fazenda acha que, no geral, os empresários ``não têm o direito" de aumentar preços, porque não há pressão de custos. E explicou –os juros estão estáveis ou com tendência de queda, o câmbio está fixo, com valorização do real em relação ao dólar, o que barateia as importações e as tarifas públicas não se alteraram e pode acontecer que se alterem para baixo. O ministro da Fazenda se referia aos preços dos combustíveis, para os quais propôs uma redução, que pode ser anunciada hoje. Ciro deveria discutir esta questão ontem com o presidente da República, Itamar Franco, que levou para Juiz de Fora, onde votou, estudos que mostravam a possibilidade de diminuição dos preços dos derivados de petróleo. A decisão ficou a cargo do presidente. Os salários, segundo o ministro, também não pressionam as empresas, porque precisam ser corrigidos pelo IPC-r só na data base. Como isto ocorre uma vez só por ano, não há necessidade de repassar para os preços. O impacto pode ser dividido ao longo dos 12 meses. Essa é a situação geral da economia, diz o ministro da Fazenda. E como os fundamentos do Plano não serão alterados, não há razões para altas generalizadas de preços. Problemas localizados O ministro admite problemas localizados. ``Fatos do mercado, a gente aceita", comentou. Referia-se a aumentos de preços por causa da entressafra da carne, da seca que deve reduzir a safra de feijão ou da alta internacional de preços de alguns insumos. Mas fora desses casos, é a ``canalhice". O próprio ministro acrescentou: ``Dizem que eu uso palavras fortes, mas se tivesse outra mais forte, eu usaria. Usar como desculpa para aumentar preço a passagem de um dia, isso não é mais tolerável". Como seu antecessor na Fazenda, Rubens Ricupero, Ciro Gomes pediu a ajuda do consumidor. ``Primeiro, não devem comprar, não pagar o aumento abusivo. E denunciar". O ministro da Fazenda criticou ainda a manutenção da greve pelos petroleiros, após a decisão do Tribunal Superior do Trabalho declarando-a abusiva. ``É uma atitude muito grave e, como irmão, recomendo aos petroleiros que cumpram a lei", disse. Ciro Gomes afirmou que não vai ceder um milímetro nos fundamentos do Plano Real, ou sejam não topará aumentos salariais elevados, que determinem aumento de custos e de preços das empresas. LEIA MAIS sobre aumento de preços na pág. 1-8 Texto Anterior: Troca de tiros na praia do Flamengo fere três banhistas Próximo Texto: Mercado espera alta do juro Índice |
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